- É um desperdício incalculável destruir as bases de um edifício adrede estabelecidas, só porque as cores das paredes são diferentes daquilo que se imaginou;
- Muito mais são os "genes" que nos unem que as nossas epidérmicas diferenças que nos separam;
- É sinal irretorquível de maturidade conviver com os diferentes;
- Há muitas sabedorias, mas só uma verdade;
- Qualquer mudança para melhor é válida, desde que os fundamentos sejam fortalecidos e evidenciados;
- Os bastiões da ortodoxia não são indiferentes aos revezes do tempo, mas tudo que junto dele se corrói só faz evidenciar a sua farsa;
- Se Deus fosse "calvinista", quão miseráveis seriam os arminianos; e, se do contrário, onde estariam os que professam os decretus horribilis?
- Possuir convicção da verdade significa, ipso fato, não temer o novo;
- Uma grande revolução nunca acontece em um hospício, porque os loucos jamais se unem;
- Há duas pragas epidêmicas que assolam os protestantes: As questiúnculas teológicas e o chauvinismo. Para a primeira há remédio; para outra, não;
- Parodiando Trilusa em sua poesia/fábula, " A Fuga do Leão", onde afirmava que não era mais necessário levar os cristãos para as arenas romanas e ali sacrificá-los. afirma: "...Cuidado, não faças isso; vais, imprudente, ficar de mãos abanando, sem serviço; tolice é sair daqui! Deixa por lá os cristãos que se comam enrtre si..."
Cícero Brasil Ferraz
2.6.14
16.5.14
NADAR É PRECISO
Há pessoas que nadam no mar; outras há que no pântano.
É óbvio que estou, com o aforísmo acima, usando de um recurso conotativo de linguagem para levantar questões como decisão, escolha, liberdade ou relacionamentos e outras variáveis quaisquer aplicáveis ao sensível e carente mundo dos homens, tão fartos de conhecimento e tão carentes de sabedoria.
Dada a amplitude e a ubiquidade dos temas, deixo as aplicações pessoais e pontuais às expensas do meu paciente leitor; que ele faça as suas próprias transposições que a mim nem sempre são possíveis devido a minha falta de espaço ou mesmo de perícia.
Nadar no mar, no rio ou no igarapé - faço isso desde a minha idade meninil - sempre me trouxe uma sensação de conquista, liberdade, leveza e até, num certo sentido, de purificação. Hoje, já adulto, aprendi com aquele "exercício expiatório" a submergir e emergir aos revezes da senectude sem perder, contudo, a experiência de reafirmar intacta, ante ao desgaste do sistema motor e intelectual, o peso subtraído pela leveza de se nadar em águas "leves". Aquela experiência juvenil traz-me a nítida revivescência que tenho controle completo sobre a "lei da gravidade" que exige que "vá para baixo" enquanto o meu corpo - por empuxo- ganha as alturas, dando-me a certeza de liberdade e de domínio. A qualquer momento posso, se desejar, sair da água, secar-me não receando, nem por um pouco, o compromisso dogmático e legalista de averiguação de que se estou "puro" ou não; ou mesmo que se alguém vai me notar ou não. Destarte, sou o que penso que posso ser.
Nadar no lodo, na lama, na resina ou em algo viscoso é, não somente repugnante, mas também estagnador, represador e limitador. Ninguém sai indene de um "banho desses". Nessa "imundificação" sempre se sai comprometido com o pegajoso, com a nódoa ou jaça. Quando alguém tenta se desfazer do viscoso, teimosamente ele permanece e, até "chupa" o nadador para um fundo ainda mais paralisante. Assim ele não é mais dono de si mesmo em toda a sua plenitude, tem o controle de suas ações só até ao ponto de subsistir. " O visgo é como um líquido visto num pesadelo, em que todas as suas propriedades são animadas por uma espécie de vida que volta-se contra mim" (Le Visqueux, J.P.Sartre).
Na orientação viscosa da vida o swimmer sente um estranho não-querido agarrado ao seu corpo tapando os seus poros. Quando invade esse líquido sente-se, por outro lado, imediatamente manietado por ele. Já não está sobre o seu controle e, sim, sob o controle daquilo que o repugna e o enoja. Já não é senhor de suas ações e não pode mais comandar as asas de sua liberdade - e alçar voo. Perdeu a volição ou, então, se encontra sob total ameaça de uma implosão relacional.
Já, em líquido leve, traça objetivos e tem total possibilidade de alcançá-los. Na resina, lama ou visgo não consegue se mover livremente como um autêntico sapiens. Tudo que poderá fazer é se mover o mínimo para não ser engolfado completamente pelo movediço.
Só há um caminho para se livrar do viscoso: É jogar-se de corpo e alma às ondas do mar, à pureza dos rios e à serenidade dos igarapés.
É claro que em uma escolha entre o lodo e o mar, há de se levar em conta, sempre, o potencial genético e o meio ambiente vivenciado pelo optante. Mas escolher o diferente em detrimento do outro será sempre o grande desafio de toda a sua existência. Ou nadar livremente rumo às curvas do desconhecido, do vivo e do excitante ou, então, paralisar no pegajoso, limboso mundo da semi-paralisia será a decisão de cada um - todos, de alguma forma e em algum lugar, estamos a nadar.
Nadar no lodo, na lama, na resina ou em algo viscoso é, não somente repugnante, mas também estagnador, represador e limitador. Ninguém sai indene de um "banho desses". Nessa "imundificação" sempre se sai comprometido com o pegajoso, com a nódoa ou jaça. Quando alguém tenta se desfazer do viscoso, teimosamente ele permanece e, até "chupa" o nadador para um fundo ainda mais paralisante. Assim ele não é mais dono de si mesmo em toda a sua plenitude, tem o controle de suas ações só até ao ponto de subsistir. " O visgo é como um líquido visto num pesadelo, em que todas as suas propriedades são animadas por uma espécie de vida que volta-se contra mim" (Le Visqueux, J.P.Sartre).
Na orientação viscosa da vida o swimmer sente um estranho não-querido agarrado ao seu corpo tapando os seus poros. Quando invade esse líquido sente-se, por outro lado, imediatamente manietado por ele. Já não está sobre o seu controle e, sim, sob o controle daquilo que o repugna e o enoja. Já não é senhor de suas ações e não pode mais comandar as asas de sua liberdade - e alçar voo. Perdeu a volição ou, então, se encontra sob total ameaça de uma implosão relacional.
Já, em líquido leve, traça objetivos e tem total possibilidade de alcançá-los. Na resina, lama ou visgo não consegue se mover livremente como um autêntico sapiens. Tudo que poderá fazer é se mover o mínimo para não ser engolfado completamente pelo movediço.
Só há um caminho para se livrar do viscoso: É jogar-se de corpo e alma às ondas do mar, à pureza dos rios e à serenidade dos igarapés.
É claro que em uma escolha entre o lodo e o mar, há de se levar em conta, sempre, o potencial genético e o meio ambiente vivenciado pelo optante. Mas escolher o diferente em detrimento do outro será sempre o grande desafio de toda a sua existência. Ou nadar livremente rumo às curvas do desconhecido, do vivo e do excitante ou, então, paralisar no pegajoso, limboso mundo da semi-paralisia será a decisão de cada um - todos, de alguma forma e em algum lugar, estamos a nadar.
Cícero Brasil Ferraz
1.5.14
O GRANDE DITADOR
Já, há algum tempo, venho analisando neste "blog", os "ismos" que constituímos e, que, ao mesmo tempo, também, nos constituíram. Às vezes o criador, em certa medida, também se torna a criatura; os sistemas e os "ismos" que o homem criou para "escrever" sua história, também se tornou enredo de seu próprio destino. Não somos, em boa medida, filhos da ditadura, da anarquia, da democracia, do socialismo e de tantos outros "ismos" que nós mesmos - via dialética histórica- criamos e, que, por ser assim, também, por eles fomos "criados"?
Quem não é, pelo menos em certa medida, totalitário ou ditador? Não somos, ainda que um pouco, filhos decorrentes do nazismo e do comunismo quando, respectivamente, rejeitamos os "bolivas" (bolivianos que no Brasil residem), e os queremos fora de nosso mundo? Não estamos, por acaso, ainda que veladamente, pugnando por uma "raça pura", por já sermos um "melting pot", e não queremos mais diluição? Não é verdade também que somos um tanto quanto comunistas quando nos separamos - de alguma forma- das classes que julgamos "inferiores", por estarmos a buscar convívio com uma "classe única" e confessando que todos os iguais deveriam ser tão iguais quanto nós?
Vou digredir. Por mais estranho que pareça, não gostaria de tratar sobre os dois temas em epígrafe que, como sistemas, trouxeram em seu bojo, dentro de um contexto etno-histórico específico, esperança e engajamento de um determinado povo num ponto pretérito da história.
Todo sistema - até aquele que sob o qual vivemos hoje- traz tudo que há de bom e de esperança, outrossim, o que há de ruim e desalento. O que sendo assim - e se é assim- vale dizer, se nós conhecêssemos somente o lado "bom", como poderíamos prová-lo como bom, sem o seu antíctone:aquilo que é ruim? ( Só lembrando: não está nos "buracos" do queijo suiço a constituição de sua própria distinção e sabor?). Faz parte do Lebenswelt esse paradoxo, que nunca será uma contradição.
Então:
O Capitalismo (agora entrei no assunto e saí da digressão), como filosofia econômica é o que dita, hodiernamente as normas e calcula a medida de poder dos governantes dos povos. Avaliamos o bom ou mau desempenho deles via resultados econômicos de sua gestão. Então, tendo como verdade a suposição acima, o sistema do governo mundial não é determinada por outros valores senão a Plutocracia.O gráficos econômicos - e não outra coisa- são o que avalia o desempenho do líder de uma nação. A Plutocracia é, por assim dizer, autocrática quando ela- somente ela- pode determinar o humor e até mesmo o destino dos governantes, comerciantes, negociantes e do cidadão comum.A Plutocracia tornou-se uma deusa paradigmática que determina valores e regras para a convivência entre os povos.
Só há um "ismo" pior que o capitalismo selvagem: Seu filho mais velho, o Consumismo. Assim, como qualquer sub-sistema - pois o Consumismo não é um sistema em si, mas produto de um desses muitos que já nos governaram- traz o seu lado glamuroso: Consumir para não se consumir. Ou seja, se não der vazão a essa obsessão, ele nos sucumbirá. Para o Consumismo a felicidade não estar no ter, mas na possibilidade daquilo que se tem ser volátil para se obter mais, com a volúpia de nada possuir. A compulsão que ele provoca é como uma camada de gás que no final, levará ao vazio, ao caos, e por fim, à morte. Como vociferavam os ditadores espanhóis: "Viva à la muerte"! Esta expressão é totalmente contraditória, pois a morte não vive. Este "tanatós" é mais que a morte, é uma anti-vida.
Assim como nas outras ditaduras o Consumismo se impõe soberano sobre a vida: ou você consome ou você não tem direito de viver no nosso sistema. Você só tem direito de viver se morrer de comprar - comprar até morrer; ter de possuir e de comer até morrer. Essa ditadura de uma classe, se tornou potestade única do estado de espírito do escravo consumista do século XXI. Ele não pode viver mais sem aquilo que o coisifica e o deteriora.
As ideologias tatalitárias - e o Consumismo é uma delas - são notáveis pela propensão a condensar o difuso, localizar o indefinido, transformar o incontrolável num alvo ao seu alcance.
O Consumo está acima de comunismo (pureza de classe) ou do nazismo (pureza da raça). Ele busca um estado social totalizado: todos necessitam de consumir - qualquer raça, qualquer classe. Essa ditadura mundial já é - no séc XXI - um poder tão totalitário que, imagino, nada poderá destituí-lo; a não ser que haja uma catástrofe de grandeza universal e, imediatamente, surja uma auto-poese que nos realize como humanidade plena, que nos privilegie com a alteridade diante daqueles consomem para viver e daqueles que vivem para consumir.
Vou digredir. Por mais estranho que pareça, não gostaria de tratar sobre os dois temas em epígrafe que, como sistemas, trouxeram em seu bojo, dentro de um contexto etno-histórico específico, esperança e engajamento de um determinado povo num ponto pretérito da história.
Todo sistema - até aquele que sob o qual vivemos hoje- traz tudo que há de bom e de esperança, outrossim, o que há de ruim e desalento. O que sendo assim - e se é assim- vale dizer, se nós conhecêssemos somente o lado "bom", como poderíamos prová-lo como bom, sem o seu antíctone:aquilo que é ruim? ( Só lembrando: não está nos "buracos" do queijo suiço a constituição de sua própria distinção e sabor?). Faz parte do Lebenswelt esse paradoxo, que nunca será uma contradição.
Então:
O Capitalismo (agora entrei no assunto e saí da digressão), como filosofia econômica é o que dita, hodiernamente as normas e calcula a medida de poder dos governantes dos povos. Avaliamos o bom ou mau desempenho deles via resultados econômicos de sua gestão. Então, tendo como verdade a suposição acima, o sistema do governo mundial não é determinada por outros valores senão a Plutocracia.O gráficos econômicos - e não outra coisa- são o que avalia o desempenho do líder de uma nação. A Plutocracia é, por assim dizer, autocrática quando ela- somente ela- pode determinar o humor e até mesmo o destino dos governantes, comerciantes, negociantes e do cidadão comum.A Plutocracia tornou-se uma deusa paradigmática que determina valores e regras para a convivência entre os povos.
Só há um "ismo" pior que o capitalismo selvagem: Seu filho mais velho, o Consumismo. Assim, como qualquer sub-sistema - pois o Consumismo não é um sistema em si, mas produto de um desses muitos que já nos governaram- traz o seu lado glamuroso: Consumir para não se consumir. Ou seja, se não der vazão a essa obsessão, ele nos sucumbirá. Para o Consumismo a felicidade não estar no ter, mas na possibilidade daquilo que se tem ser volátil para se obter mais, com a volúpia de nada possuir. A compulsão que ele provoca é como uma camada de gás que no final, levará ao vazio, ao caos, e por fim, à morte. Como vociferavam os ditadores espanhóis: "Viva à la muerte"! Esta expressão é totalmente contraditória, pois a morte não vive. Este "tanatós" é mais que a morte, é uma anti-vida.
Assim como nas outras ditaduras o Consumismo se impõe soberano sobre a vida: ou você consome ou você não tem direito de viver no nosso sistema. Você só tem direito de viver se morrer de comprar - comprar até morrer; ter de possuir e de comer até morrer. Essa ditadura de uma classe, se tornou potestade única do estado de espírito do escravo consumista do século XXI. Ele não pode viver mais sem aquilo que o coisifica e o deteriora.
As ideologias tatalitárias - e o Consumismo é uma delas - são notáveis pela propensão a condensar o difuso, localizar o indefinido, transformar o incontrolável num alvo ao seu alcance.
O Consumo está acima de comunismo (pureza de classe) ou do nazismo (pureza da raça). Ele busca um estado social totalizado: todos necessitam de consumir - qualquer raça, qualquer classe. Essa ditadura mundial já é - no séc XXI - um poder tão totalitário que, imagino, nada poderá destituí-lo; a não ser que haja uma catástrofe de grandeza universal e, imediatamente, surja uma auto-poese que nos realize como humanidade plena, que nos privilegie com a alteridade diante daqueles consomem para viver e daqueles que vivem para consumir.
Cícero Brasil Ferraz
15.4.14
PLIM! PLIM! - # ALIENAÇÃO
Depois de maciça repercussão de um texto meu (PLIM! PLIM! - ISSO É TUDO) publicado neste blog, alguns leitores me convenceram a voltar ao assunto.
Cícero Brasil Ferraz
De cara, já estou a dizer, que não sou contra (em princípio) a nenhuma mídia. Por outro lado, também, não sou contra a nenhuma crítica a nenhuma mídia, inclusive a televisiva. Creio que elas exercem (as televisivas) excelente influência pedagógica quando tem por fito a informação e a formação de seus telespectadores mas, que, prestam um desserviço incalculável ao cidadão comum quando o seu desideratum é alienação, a massificação e até a idiotização daqueles que, pela a inépcia do nosso (brasileiro) "welfare state", poucas chances tem de um distanciamento crítico ou no mínima, de levantar alguma suspeita, quando se veem à frente da única "diversão" que possuem. Esse tipo de entretenimento está a serviço de qualquer outro interesse menos ao daquele que busca mostrar a "real realidade social" (desculpem-me pela redundância) como na verdade ela é.
Na nossa Republiqueta Tupiniquim, a alienação está presente em todos os setores, em todos os segmentos e em todas as camadas sociais. Os programas de TV, v.g., são quase sempre, cópias caricatas dos "broadcasts xenobrasilis" mas que, de alguma forma, empurrados goela abaixo, nos jogam para a, cada vez mais longe, realidade de quem somos, como estamos e o quê queremos ser. Isso me enoja: Usar e manipular a ignorância pelo simples prazer de possuir a alma humana e, assim, se sentir mais igual dos que os seus pares. É mesmo ridículo usar "idiot. savants" para esse fim. É simplesmente narcotizar esperanças e anestesiar um possível tempo de prosperidade social que, no nosso caso, sempre está tão perto, mas que nunca se historifica dada a legalização das chicanas, do compadrio e dos "esquemas" entre os dominadores da mídia parda e camuflada, mancomunados com aqueles (os do estableshment) seus concessionários.
Não nego que o melhor que há em nosso mundo midiático seja a TV Globo. Nesse caso, o que há de melhor é, também, o que há de pior para a pobre e despreparada população. Aproveitando que a maioria de nós não tem acesso a outras informações literárias, a Globo engenhosamente cria aquilo que chamo de "homogeneização da crítica", ou seja, "obriga" a todos os despreparados, que se constituem na grande maioria de nós, a imaginar, que o mundo é "só assim"; é mesmo assim; e só é assim, ipso facto, porque acontece nas vivências fantasiosas da telinha, sobretudo nas alienantes "soap operas".
Como acreditar - se não só pela via da alienação espúria desse modelo midiática- que, um comportamento social estranho a nossa cultura, uma cabelo naturalmente liso, um vestido glamuroso de tecido importado, um apartamento ou uma casa de milhões de reais fazem parte da realidade de brasileiros comuns? Essa alienação cria uma fantasia de que todos nós fazemos parte dessa (i)realidade, inocula uma projeção esdrúxula e emperra a realidade brasileira a chegar no que poderíamos de "vida minimamente confortável".
Não é verdade que a Globo, com isso, está simplesmente exibindo um fenômeno social maioritário. Não é verdade que todas as famílias brasileiras acham prosaico trejeitos de comportamentos homossexuais (não estou entrando no mérito comportamental "homo"), e que devam ser ovacionados como "ídolos"; não é verdade que a família média brasileira acolha com naturalidade um filho viciado em drogas, dizendo: "...isso acontece..."...; não é verdade que homens e mulheres desta nação achem "fenomenal", cônjuges se traindo sem que isso não traga tremendos distúrbios a eles e aos filhos de "pais separados". Há gente -digo, sem medo de errar-, uma grande maioria, que ainda se indigna com o que há de mais "xeno" e disfórmico dentro dessa coercitiva trajetória cultural.
Eu não sei (sei, sim!) a quem interessa ossificar na mente do brasileiro comum e, quase sempre, despreparado, esse modelo social de que isso é toda realidade social brasileira com o qual as nossas famílias devam se acostumar.
A superficialidade das informações unilaterais e tendenciosas, os shows massificantes tipo "pão e circo", os padrões estéticos esdrúxulos ( digo, fúteis) que lançam tendência primeiromundista para uma população que nem água e esgoto pode usufruir, IMPOEM uma busca frenética, fóbica e desproporcional a nossa pobre e já suficientemente explorada população brasileira. O escravo moderno brasileiro não sofre mais sob o látego de senhores e feitores mas, sim, da alienação ideológica midiática.
Por outro lado, seria bom que os criativos diretores, roteiristas, fotógrafos e os "experts" da teledramaturgia global produzissem um uma "novela da vida real" a partir de nossos guetos, favelas onde campeiam a desgraça, a fome, o tráfico (endereçados aos riquinhos que podem usar o que "há de melhor"). Ou, então, produzisse um "caso verdade" de crianças barrigudas, lunbriguentas e esquecidas nas periferias das nossas cidades, que lá vivem como lixo humano. Ou, ainda, quem sabe, o abandono e solidão vividos por homossexuais que já chegaram à velhice e não "atraem" mais os parceiros; ou, ainda, a crise que vivem os cônjuges do "segundo casamento".
Isso, também, não é toda a realidade brasileira, concordo, mas é o que há de mais comezinho entre nós ou é, no mínimo, o lado "esquecido" pelo PLIM! PLIM!.
P.S. Não levanto estes dados acima baseado em teorias ou em qualquer outro sentimento. Como psicanalista atendo centenas de situações similares e, ainda, como tal, sou um crítico mordaz de qualquer matiz de alienação seja ele político, religioso, social ou intelectual.
Não nego que o melhor que há em nosso mundo midiático seja a TV Globo. Nesse caso, o que há de melhor é, também, o que há de pior para a pobre e despreparada população. Aproveitando que a maioria de nós não tem acesso a outras informações literárias, a Globo engenhosamente cria aquilo que chamo de "homogeneização da crítica", ou seja, "obriga" a todos os despreparados, que se constituem na grande maioria de nós, a imaginar, que o mundo é "só assim"; é mesmo assim; e só é assim, ipso facto, porque acontece nas vivências fantasiosas da telinha, sobretudo nas alienantes "soap operas".
Como acreditar - se não só pela via da alienação espúria desse modelo midiática- que, um comportamento social estranho a nossa cultura, uma cabelo naturalmente liso, um vestido glamuroso de tecido importado, um apartamento ou uma casa de milhões de reais fazem parte da realidade de brasileiros comuns? Essa alienação cria uma fantasia de que todos nós fazemos parte dessa (i)realidade, inocula uma projeção esdrúxula e emperra a realidade brasileira a chegar no que poderíamos de "vida minimamente confortável".
Não é verdade que a Globo, com isso, está simplesmente exibindo um fenômeno social maioritário. Não é verdade que todas as famílias brasileiras acham prosaico trejeitos de comportamentos homossexuais (não estou entrando no mérito comportamental "homo"), e que devam ser ovacionados como "ídolos"; não é verdade que a família média brasileira acolha com naturalidade um filho viciado em drogas, dizendo: "...isso acontece..."...; não é verdade que homens e mulheres desta nação achem "fenomenal", cônjuges se traindo sem que isso não traga tremendos distúrbios a eles e aos filhos de "pais separados". Há gente -digo, sem medo de errar-, uma grande maioria, que ainda se indigna com o que há de mais "xeno" e disfórmico dentro dessa coercitiva trajetória cultural.
Eu não sei (sei, sim!) a quem interessa ossificar na mente do brasileiro comum e, quase sempre, despreparado, esse modelo social de que isso é toda realidade social brasileira com o qual as nossas famílias devam se acostumar.
A superficialidade das informações unilaterais e tendenciosas, os shows massificantes tipo "pão e circo", os padrões estéticos esdrúxulos ( digo, fúteis) que lançam tendência primeiromundista para uma população que nem água e esgoto pode usufruir, IMPOEM uma busca frenética, fóbica e desproporcional a nossa pobre e já suficientemente explorada população brasileira. O escravo moderno brasileiro não sofre mais sob o látego de senhores e feitores mas, sim, da alienação ideológica midiática.
Por outro lado, seria bom que os criativos diretores, roteiristas, fotógrafos e os "experts" da teledramaturgia global produzissem um uma "novela da vida real" a partir de nossos guetos, favelas onde campeiam a desgraça, a fome, o tráfico (endereçados aos riquinhos que podem usar o que "há de melhor"). Ou, então, produzisse um "caso verdade" de crianças barrigudas, lunbriguentas e esquecidas nas periferias das nossas cidades, que lá vivem como lixo humano. Ou, ainda, quem sabe, o abandono e solidão vividos por homossexuais que já chegaram à velhice e não "atraem" mais os parceiros; ou, ainda, a crise que vivem os cônjuges do "segundo casamento".
Isso, também, não é toda a realidade brasileira, concordo, mas é o que há de mais comezinho entre nós ou é, no mínimo, o lado "esquecido" pelo PLIM! PLIM!.
P.S. Não levanto estes dados acima baseado em teorias ou em qualquer outro sentimento. Como psicanalista atendo centenas de situações similares e, ainda, como tal, sou um crítico mordaz de qualquer matiz de alienação seja ele político, religioso, social ou intelectual.
Cícero Brasil Ferraz
31.3.14
GHOST - O LADO DE DENTRO YANKEE
Não há que se discutir a supremacia - ainda que evanescente - dos EUA sobre qualquer outra nação deste planeta. Seu modelo de organização social, seus antigos pressupostos fundantes de um mundo livre, sua dinâmica de mercado e, até mesmo, seu poder bélico, foram ( e ainda são) paradigmáticos para todos os povos desde que o May Flower aportou no Cabo Cod (Mss)..
Por incrível que possa parecer, fundamentaram essa estrutura admirável sob aquilo que chamo de "inimigo impossível de ser vencido" : A sua obsessão e a total "mania" (uso esta palavra no sentido fóbico) de que sempre está - e estará- sob um possível ataque inimigo (" afinal, eu não creio em fantasmas mas que há, há"; como diriam os argentinos). Isso está mesmo no "gen sócio-psíquico" dos filhos da outra américa. Numa linha bem definida no tempo e na história podemos destacar seus "inimigos" assim: Os índios, os ingleses, mais tarde, quando não tinham inimigos "exógenos" criaram um "endógeno" na guerra de secessão; e, ainda Hitler, os soviéticos, Komeine, Arafat, Saddam Hussein, Al-Qaeda, Ahmadinejad, mais recentemente Putin.
Só para abrir um parêntese, o 11 de setembro foi o momento mais sócio-orgástico dos vizinhos do norte. Foi a certeza irretorquível de que os fantasmas existem. A convicção que as sombras das ameaças eram, por dentro, hipostáticas. O Terrorismo ( uso "t" maiúsculo que de agora em diante é uma entidade) foi - e é- o pior de seus inimigos. Um inimigo sem pátria, sem bandeira, sem um presidente, sem hino ou sinetes. Um verdadeiro fantasma real! Mais do que um desastre social, o 11 de setembro foi um orgasmo fantasístico de um imaginário social fóbico.
Nações e povos, quaisquer deles, tem seus inimigos. Mas para os norte-americanos, eles não só existem como, quando não existem, são criados para, de alguma forma, manterem viva uma das poderosas "força ocultas" ( como diria Jânio Quadros) que os estruturaram sócio, psíquica, espiritual e materialmente. Apesar disso, e por isso, são o que são.
Todo status de ordem social (familiar, institucional, religioso, político) produz determinadas fantasias de perigos possíveis que possam ameaçar a sua identidade. Cada sociedade, porém, gera fantasias elaboradas segundo a sua própria medida - segundo a medida do tipo de ordem social que se esforça em ser. De um modo geral, tais fantasias tendem a ser imagens espelhadas da sociedade que as gera, enquanto a imagem de ameaça tende a ser um auto-retrato da sociedade com um sinal negativo. Ou para expressarmos em termos psicanalíticos, a ameaça é uma projeção da ambivalência interna da sociedade sobre seus próprios recursos, sobre a maneira como vive e perpetua o seu desenho existencial.
Uma sociedade insegura de sua sobrevivência seja ela qual for, irá desenvolver, indefectivelmente, uma mentalidade de "fortaleza sitiada". Mas os inimigos que lhe sitiaram os muros são os seu "próprios demônios interiores" - os medos reprimidos e circundantes que lhe permeiam a vida diária e a "normalidade", e que, no entanto, a fim de tornar suportável a realidade diária, devem ser dominados, extraídos do cotidiano vivido e emoldurado em um "corpo estranho", um inimigo tangível com quem se possa lutar, e lutar novamente , e lutar até sob a esperança de vencer.
Afinal, o Superman em (in)sã consciência jamais diria ao Ironman, que confidenciasse ao Batman, que existe um Funk Phantom a nos proteger por aí, não é mesmo Capitão América?
Cícero Brasil Ferraz
16.3.14
O ESTRANHO NO NINHO
O "pathos" é um daqueles conceitos-metáfora que os gregos tão bem sabiam criar. Dele derivam outras variantes tais como simpatia, antipatia e apatia; e dele também o tão propalado conceito de empatia ( EM+PATHOS)
O "pathos grego" não é só um vocábulo; é-o, na verdade, um constructo, uma "relativnatüslich weltanschauung" (Max Scheler), uma maneira interativa de como alguém enxerga-sentindo o mundo de um modo diferente do seu, mas como se fosse o seu próprio. Pessoas, coisas, costumes e conceitos passam não só para a sua percepção mnemônica, mas também para o EM do PATHOS (dentro; é isso que significa essa preposição na língua grega). Assim, EM+PATHOS, de onde deriva o verbete empatia, quer significar sentir dentro, doer dentro ou, ainda, ter paixão por algo e, principalmente por alguém.
Assim temos, portanto, o mais antigo conceito de empatia: Sentir o diferente dentro, como se fosse algo, algum ou alguém que sempre esteve ali; como algo que nos constituiu. Em outras palavras, como vulgarmente expressamos: é "estar na pele de alguém" ou, ainda, absorver a alteridade como composição hegemônica do si-mesmo.
A empatia não só capacita o homem entender e sentir o estranho como se fosse o seu próprio segmento, mas também possibilita que o relacionamento interpessoal se torne intrapessoal; que o estranho transite dentro de si como um "doméstico de absoluta confiança". A empatia é uma virtude que aprofunda as relações, relativiza as críticas frias e abre portas para um diálogo revolucionário e transformador. É nesse sentido que Breuer diz que "as palavras curam".
O próprio "empático" (aquele que é tomado por esse sentimento-paixão) se compreende melhor, quando assim compreende o estranho que ora o habita. Cria aquele constructo de senso comum "de afeição das descobertas de suas verdadeiras diferenças" quando, então, essa maturidade se fará "pontífice" do verdadeiro relacionamento interacional. Cria-se, com esse movimento biofílico, o que poderíamos chamar de "perspectivas recíprocas".
Só o pathos pode conceder ao homem a dor de conhecer o outro "lá dentro". Só se pode compreender os atos de outra pessoa se se puder imaginar quando que ele mesmo - o agente interacional- praticaria atos análogos se estivesse na mesma situação, reguladas pelos mesmos motivos de por quê, orientado pelos mesmos motivos de para quê. Todas essas palavras compreendidas no mesmo sentido restrito da "típica" analogia, da "típica" uniformidade.
Compreendemos o estranho através dessa concepção "patológica", através dessa permutabilidade de ponto de vista; e, dessarte, se pode crescer em outras áreas da vida que somente serão conhecidas a partir do estranho que em mim se torna um-em-mim. Absorvemos e vivenciamos subjetividades e virtudes sem as quais jamais nos individuaríamos.
Cícero Brasil Ferraz
28.2.14
O PRÍNCIPE E O SAPO
Todo agrupamento étnico tem uma história para contar a respeito da orígem do seu mundo, da gênese do universo e de como aquela determinada etnia tem aquela cor de pele , seu desenho anatômico, seu biotipo (genótipo) e suas micro-variações (fenótipo).
Há uma necessidade inata de se contar de "onde vim", "quem sou eu" , e "do arquê e do porquê estou aqui"; e, ainda, porquê e como "devo me relacionar com seres e coisas que estão ao seu redor". Isso constitui a sua "weltanschauung". Não nos cabe aqui - por ora, pelo menos- levantar hipóteses ou abrir uma discussão sobre esse riquíssimo tema. Os homens são assim; e ponto.
Dentro da cultura hebraico-cristã na qual estou inserto ( com "s" mesmo), há uma história fantástica. Elohim (Deus criador) formou do barro um boneco, soprou-lhe as narinas dando-lhe vida e, assim, criou o primeiro homem, Adão, que, aliás, era muito parecido com com o seu criador, por conta de características e atributos "geneticamente herdados" - o que os hebreus chamaram de "imagem e semelhança". Passo seguinte, da costela de Adão, cria um ser semelhante a ele, Eva : Uma mulher!
Os dois viviam em um lugar cheio de flores, plantas, pássaros, peixes e animais. Havia uma sinergia absoluta entre as coisas e o casal; quase uma simbiose, mesmo...
E o mais importante de tudo era que, o casal se encontrava e conversava com o seu criador longamente, em cada vesperal, de cada dia.
Eis que houve uma tragédia, uma grande catástrofe relacional. Esse casal desobedeceu o seu criador. Comeu "da árvore do bem e do mal". E a relação harmoniosa com o criador sofreu a mais terrível solução de continuidade: Eles não puderam mais contemplar o espelho de seu rosto espiritual a partir de diálogo (comunhão) com o seu criador, como normalmente acontecia.
E ai, à tarde, como sempre acontecia, o criador chegou no paraíso e "não viu" (simbolicamente) suas criaturas maravilhosas e perguntou, fazendo soar sua voz como um trovão: "Adão, onde você está?" Ao que esse respondeu: "Eu ouvi o som de você no jardim, eu estava com medo e envergonhado porque estava nu, e escondi-me" . E, assim, cheia de riquezas, a história continua para outras derivações. Vale a pena ler todo o relato.
O que o povo hebreu, entre outras coisas, queria ensinar com esse relato?
Que o homem só pode ter uma identidade desnudada portanto, verdadeira, autêntica e absolutamente consciente quando está em contato direto com a orígem de sua própria identidade, o Elohim; que o diálogo pleno com a eternidade ( para o que fora criado) e com o próximo só alcança sua plenitude junto àquele que o "ensinou" a falar; relacionar e não se esconder. Quando ele perde a intimidade desnudada com a sua orígem perde, imediatamente, a visão nítida de seu "self". O que vê é algo que parece o que foi um dia sublime, inteiro, pleno mas, que, agora, não consegue mais ir além daquele simulacro.
Os hebreus chamam essa intimidade relacional de adoração. Então, em outras palavras, todas as vezes que o homem deixa de adorar deixa, também, de existir enquanto criatura plena de significado em tudo aquilo que faz, pensa, executa, olha, projeta e relaciona, ou seja, perde o sentido última da vida. Então porquê ele perde, assim, a transcendência mede, ipso facto, toda a sua rotina a partir de caricatura que ele faz agora ser a única coisa que conhece de seu "passado" glorioso.E como ele é efêmero, tudo passa a ser constituído dentro da limitação de sua capacidade de transcender. Nada -nada mesmo- passa do teto de sua "baixeza existencial" (espiritual).
Essa magnífica história deixa claro que o homem sem o sentido de tanscendência vai sempre, usando uma expressão da sabedoria hebraica, "correr atrás do vento"; recorrerá constantemente às árvores e arbustos para que, como avestruz, sob elas, esconder de seus medos e seus fantasmas. Só a shekinah (luz, presença, peso moral e espiritual) do criador é capaz de removê-lo dali para enfrentar com coragem (fé) os grandes desafios de sua sombria peregrinação neste mundo, de volta para o seu paraíso original.
Dentro da cultura hebraico-cristã na qual estou inserto ( com "s" mesmo), há uma história fantástica. Elohim (Deus criador) formou do barro um boneco, soprou-lhe as narinas dando-lhe vida e, assim, criou o primeiro homem, Adão, que, aliás, era muito parecido com com o seu criador, por conta de características e atributos "geneticamente herdados" - o que os hebreus chamaram de "imagem e semelhança". Passo seguinte, da costela de Adão, cria um ser semelhante a ele, Eva : Uma mulher!
Os dois viviam em um lugar cheio de flores, plantas, pássaros, peixes e animais. Havia uma sinergia absoluta entre as coisas e o casal; quase uma simbiose, mesmo...
E o mais importante de tudo era que, o casal se encontrava e conversava com o seu criador longamente, em cada vesperal, de cada dia.
Eis que houve uma tragédia, uma grande catástrofe relacional. Esse casal desobedeceu o seu criador. Comeu "da árvore do bem e do mal". E a relação harmoniosa com o criador sofreu a mais terrível solução de continuidade: Eles não puderam mais contemplar o espelho de seu rosto espiritual a partir de diálogo (comunhão) com o seu criador, como normalmente acontecia.
E ai, à tarde, como sempre acontecia, o criador chegou no paraíso e "não viu" (simbolicamente) suas criaturas maravilhosas e perguntou, fazendo soar sua voz como um trovão: "Adão, onde você está?" Ao que esse respondeu: "Eu ouvi o som de você no jardim, eu estava com medo e envergonhado porque estava nu, e escondi-me" . E, assim, cheia de riquezas, a história continua para outras derivações. Vale a pena ler todo o relato.
O que o povo hebreu, entre outras coisas, queria ensinar com esse relato?
Que o homem só pode ter uma identidade desnudada portanto, verdadeira, autêntica e absolutamente consciente quando está em contato direto com a orígem de sua própria identidade, o Elohim; que o diálogo pleno com a eternidade ( para o que fora criado) e com o próximo só alcança sua plenitude junto àquele que o "ensinou" a falar; relacionar e não se esconder. Quando ele perde a intimidade desnudada com a sua orígem perde, imediatamente, a visão nítida de seu "self". O que vê é algo que parece o que foi um dia sublime, inteiro, pleno mas, que, agora, não consegue mais ir além daquele simulacro.
Os hebreus chamam essa intimidade relacional de adoração. Então, em outras palavras, todas as vezes que o homem deixa de adorar deixa, também, de existir enquanto criatura plena de significado em tudo aquilo que faz, pensa, executa, olha, projeta e relaciona, ou seja, perde o sentido última da vida. Então porquê ele perde, assim, a transcendência mede, ipso facto, toda a sua rotina a partir de caricatura que ele faz agora ser a única coisa que conhece de seu "passado" glorioso.E como ele é efêmero, tudo passa a ser constituído dentro da limitação de sua capacidade de transcender. Nada -nada mesmo- passa do teto de sua "baixeza existencial" (espiritual).
Essa magnífica história deixa claro que o homem sem o sentido de tanscendência vai sempre, usando uma expressão da sabedoria hebraica, "correr atrás do vento"; recorrerá constantemente às árvores e arbustos para que, como avestruz, sob elas, esconder de seus medos e seus fantasmas. Só a shekinah (luz, presença, peso moral e espiritual) do criador é capaz de removê-lo dali para enfrentar com coragem (fé) os grandes desafios de sua sombria peregrinação neste mundo, de volta para o seu paraíso original.
Cícero Brasil Ferraz
15.2.14
O PALIMPSESTO
Se não sabemos em que cremos, não sabemos quem somos. Mito e fé são forças insubstituíveis no que respeita à estruturação psíquica, social e espiritual na auto-definição de cada indivíduo.
Com o exposto retorno ao assunto mais preferido no meu blog: "O gato felix: Correndo em círculo atrás do rato". Creio que esse acesso foi tão expressivo dado ao fato das pessoas terem grande necessidade de cumprir o imperativo da Academia platônica: "Conheça-te a ti mesmo" (gnõthi seauton ou sauton com "e" contraído).
Se o nosso patrimônio fiduciário (de fé) deixou de ser um patrimônio vinculado pelo longo tempo e pelas duras e longas experiências dos nossos antepassados também, não podemos afirmar, com certeza, que o nosso "projeto de vida" seja, de fato, um projeto para a vida. Se, no dizer de Sartre, somos de fato "condenados à liberdade", ou seja, se somos obrigados a escolher e a definir constantemente, para aonde estamos indo com essas suposições (no caso) sem lastro étnico ou sem "arquivo genético"? Se a imagem que temos do nosso "self" é tão instantânea como voláteis são as nossas opiniões, que imagem temos de nós mesmos quando medida pela vulnerabilidade de nossos conceitos e opiniões? Daqui, a grande dificuldade que temos de nos posicionarmos, de nos definirmos enquanto "eu-autêntico". Quase sempre o conflito de nossa alma vem do fato de não podermos conhecer, a partir desses "instantâneos", a nossa verdadeira identidade.
Geralmente nossa individuação (Jung) acontece como se dá na construção de um edifício. Uma casa se constrói mediante a adição de alicerces, paredes, aposentos e corredores. Normalmente não se começa a construir e depois se demole um edifício quando ele está na fase final. Também, mutatis mutandis, não construímos nossa identidade com uma série de "novos começos" e novas "desconstruções", ad eternum. O ser para o futuro nunca o será se não o do a partir do seu gen e do seu ambiente histórico e vivencial (sitz im leben).
Antigamente os escritores, poetas e filósofos, por não terem fartura de tábuas de madeira ou de argila (modernamente nosso papel), cobriam com tintas os primeiros escritos daquelas tábuas para aproveitá-las novamente e, sobre o escrito "oculto", grafar novos textos.
Quantas vezes o homem pós-moderno, por não ter clareza de nada, tem criado apara si mesmo uma "identidade de palimpsesto". Como um filósofo disse algures: "Essa a identidade que se ajusta ao mundo em que a arte de esquecer é um bem não menos, e não mais, importante do que a arte de memorizar, em que esquecer, mais do que aprender, é a condição de contínua adaptação, em que sempre novas coisas e pessoas entram e saem sem muita o qualquer finalidade do campo de visão da inalterada câmara da atenção e em que a própria memória é como uma fita de vídeo, sempre pronta a ser apagada a fim de receber novas imagens, e alardeando uma garantia para toda a vida exclusivamente graças a essa admirável perícia de uma necessidade de auto-obliteração".
Essa é a condição sob a qual geme a identidade pós-moderna - ela é construída na nebulosa auto-eternizante incerteza de não saber quem é e nem para aonde vai; vai por-si, sem uma busca do projeto de encontrar um significante e de buscar um significado para a sua história; é a sensação ôca e angustiante de, por não-saber-quem- é, não poder, também, saber-para-aonde-vai.
O homem contemporâneo sofre, pode-se dizer, de uma crônica falta de recursos com os quais construiria uma identidade verdadeiramente sólida e duradoura capaz de ancorá-lo em uma certeza e, assim, suspender-lhe sua deriva abissal que só poderá ser suspensa ou vencida na intrigante realidade relacional de um alguém-que-possa ser, encontrar no outro-que-já-é, até a um nós-todos-que-desejamos ser.
Geralmente nossa individuação (Jung) acontece como se dá na construção de um edifício. Uma casa se constrói mediante a adição de alicerces, paredes, aposentos e corredores. Normalmente não se começa a construir e depois se demole um edifício quando ele está na fase final. Também, mutatis mutandis, não construímos nossa identidade com uma série de "novos começos" e novas "desconstruções", ad eternum. O ser para o futuro nunca o será se não o do a partir do seu gen e do seu ambiente histórico e vivencial (sitz im leben).
Antigamente os escritores, poetas e filósofos, por não terem fartura de tábuas de madeira ou de argila (modernamente nosso papel), cobriam com tintas os primeiros escritos daquelas tábuas para aproveitá-las novamente e, sobre o escrito "oculto", grafar novos textos.
Quantas vezes o homem pós-moderno, por não ter clareza de nada, tem criado apara si mesmo uma "identidade de palimpsesto". Como um filósofo disse algures: "Essa a identidade que se ajusta ao mundo em que a arte de esquecer é um bem não menos, e não mais, importante do que a arte de memorizar, em que esquecer, mais do que aprender, é a condição de contínua adaptação, em que sempre novas coisas e pessoas entram e saem sem muita o qualquer finalidade do campo de visão da inalterada câmara da atenção e em que a própria memória é como uma fita de vídeo, sempre pronta a ser apagada a fim de receber novas imagens, e alardeando uma garantia para toda a vida exclusivamente graças a essa admirável perícia de uma necessidade de auto-obliteração".
Essa é a condição sob a qual geme a identidade pós-moderna - ela é construída na nebulosa auto-eternizante incerteza de não saber quem é e nem para aonde vai; vai por-si, sem uma busca do projeto de encontrar um significante e de buscar um significado para a sua história; é a sensação ôca e angustiante de, por não-saber-quem- é, não poder, também, saber-para-aonde-vai.
O homem contemporâneo sofre, pode-se dizer, de uma crônica falta de recursos com os quais construiria uma identidade verdadeiramente sólida e duradoura capaz de ancorá-lo em uma certeza e, assim, suspender-lhe sua deriva abissal que só poderá ser suspensa ou vencida na intrigante realidade relacional de um alguém-que-possa ser, encontrar no outro-que-já-é, até a um nós-todos-que-desejamos ser.
Cícero Brasil Ferraz
30.1.14
TIPO, ANTÌTIPO E ARQUÉTIPO- UMA HERMENÊUTICA DA CULPA
Sou um homem religioso. Todavia reconheço como tal e, que, como dotado de algum saber, que a religião - uso esse termo religião no sentido mais geral possível- tem sido a causa de muitos males à sociedade, quando analisada sob os aspectos infra-descritos.
O homem "primitivo" (uso este termo com muitas reservas, pois eu não sei que é mais primitivo se o silvícola colhendo frutas e raízes; caçando e se escondendo nas cavernas ou o homem pós-moderno solitário, angustiado, entorpecido dentro de seu apartamento; longe dos rios, das matas e da esperança de dias melhores) quando não achava resposta para muitos de seus males e de suas questões existenciais, buscava encontrar alívio em algum tipo de explicações provindas do além sempre mediadas por xamãs, pagés, benzedeiras e tantos outros caminhos pontificados entre o "aqui e agora" e o "lá e então".
Já, no florescer do séc. V, com a sofisticação hierárquica do cristianismo, a Igreja "toma" o direito das outras potestades, assumindo a postura de medianeira da condição desprotegida do "homem contingencial" que buscava a certeza daquilo que lhe fosse necessária e, que, assim, garantisse alguma promessa confortadora que apontasse para a o amanhã outrossim, que lhe fornecesse respostas permanentes para as grandes questões existenciais, psicológicas e espirituais. Aqui entra a igreja, com o dístico extra eclesiam nulla salus que a tudo compreendia, tudo podia, tudo sabia, tudo decidia; era a Grande Mãe que apaziguava os corações; aliviava as mentes atormentadas e preservava o futuro secular e espiritual dos "ignorantes" (fiéis).
Nesse contexto, o confessionário era o poderoso "divã" onde o homem expurgava seus pecados, afugentava seus fantasmas, assim como nos grandes ritos tribais ao redor de suas fogueiras como aos pés de seus moais e totens em que o homem primevo também fazia através de suas oblações.
Hoje, pobres de nós "civilizados", buscamos conforto nos "ismos" que nos circundam diariamente: Racionalismo, iluminismo, catolicismo, protestantismo, evangelicalismo, socialismo, democratismo, cientificismo, espiritismo e tantos outros "ismos". Neste sentido, o homem moderno e "civilizado" é tão infantilizado quanto o bom silvícola de Rousseau, é tão sistemático (de sistema) quanto aquele da "sociedade do espetáculo" de Guy Debord. Somos todos como a heroína de H.G. Wells, do clássico Christina Alberta's Father que, em todas as suas ações, sentimentos e decisões se sente submetida à vigilância de uma autoridade moral que Wells chama de "court of conscience" tão bem debatida por Saulo de Tarso (Apóstolo São Paulo) no início de sua famosa Carta Aos Romanos.
Essa "consciência" é o tesouro de pressupostos que, ao faltar um critério consciente e idôneo sobre quase tudo, sugere imediatamente uma opinião "ex cathedra" pela qual possa não se culpar sozinha, caso não atinja os páramos da perfeição que militam contra as sua mazelas existenciais.
Essa "consciência" por não suportar seus fracassos escolhe seus deuses como parceiros e vicários de seus males; afinal, os deuses não são só bonzinhos...por isso, devem partilhar com ela (consciência), o doloroso preço de seu cáutero. Aliás, essa tem sido a mais poderosa reflexão que "o pobre silvícola pós-moderno" tem feito: A de ponderar sobre o culpado de sua culpa que os deuses e os "ismos", coniventes com seu ambiente, lhe legaram; e quando não refletem sobre o "peso dessa corte" (porque refletir é ume proposta sofisticada e que exige coragem existencial de um cérebro quase sempre preguiçoso e sempre indolor), prefere optar pelo niilismo. Assim, entre "caprichos" e "opiniões", homens e mulheres, propõem armistícios às suas melancolias e seus fantasmas.
Uma outra via pela qual o homem pós-moderno se defende da culpa é usando sua autonomia. Essa arrogância "cult" torna-o ilusória e provisoriamente independente dos deuses, dos ambientes e das pessoas. Nesse caso é fácil encontrá-lo "trash" no que se refere às questões da alma, das relações interpessoais e da grandeza do mundo espiritual. Ao final, portanto, se acha carente de consolação, conforto social e espiritual; não consegue, destarte, encontrar explicação para o descompasso entre a seu saber crescente e sua alma mendicante.
Talvez o que irá aproximar esse homem do "sí-mesmo" seja a conscientização de que ele é uma espécie de casa cuja as portas e janelas se abrem para o mundo, que objetos e conteúdos do seu mundo interior atuam sobre ele, mas não lhe pertencem; que a última esperança não está nele mesmo - vem de fora... além do seu imaginário, de toda a sua policiência e de todo o seu saber; que ele é pequeno demais para dar a si mesmo o título de "autônomo"; de que ele não é dono de sua própria "casa" - mesmo que tente substituir seus "deuses" pelos "ismos" pois que, sempre aquela odiosa reflexão, inopinadamente, emergirá dos abismos para jogá-lo novamente de volta à sua condição finita do eterno dependente.
Já, no florescer do séc. V, com a sofisticação hierárquica do cristianismo, a Igreja "toma" o direito das outras potestades, assumindo a postura de medianeira da condição desprotegida do "homem contingencial" que buscava a certeza daquilo que lhe fosse necessária e, que, assim, garantisse alguma promessa confortadora que apontasse para a o amanhã outrossim, que lhe fornecesse respostas permanentes para as grandes questões existenciais, psicológicas e espirituais. Aqui entra a igreja, com o dístico extra eclesiam nulla salus que a tudo compreendia, tudo podia, tudo sabia, tudo decidia; era a Grande Mãe que apaziguava os corações; aliviava as mentes atormentadas e preservava o futuro secular e espiritual dos "ignorantes" (fiéis).
Nesse contexto, o confessionário era o poderoso "divã" onde o homem expurgava seus pecados, afugentava seus fantasmas, assim como nos grandes ritos tribais ao redor de suas fogueiras como aos pés de seus moais e totens em que o homem primevo também fazia através de suas oblações.
Hoje, pobres de nós "civilizados", buscamos conforto nos "ismos" que nos circundam diariamente: Racionalismo, iluminismo, catolicismo, protestantismo, evangelicalismo, socialismo, democratismo, cientificismo, espiritismo e tantos outros "ismos". Neste sentido, o homem moderno e "civilizado" é tão infantilizado quanto o bom silvícola de Rousseau, é tão sistemático (de sistema) quanto aquele da "sociedade do espetáculo" de Guy Debord. Somos todos como a heroína de H.G. Wells, do clássico Christina Alberta's Father que, em todas as suas ações, sentimentos e decisões se sente submetida à vigilância de uma autoridade moral que Wells chama de "court of conscience" tão bem debatida por Saulo de Tarso (Apóstolo São Paulo) no início de sua famosa Carta Aos Romanos.
Essa "consciência" é o tesouro de pressupostos que, ao faltar um critério consciente e idôneo sobre quase tudo, sugere imediatamente uma opinião "ex cathedra" pela qual possa não se culpar sozinha, caso não atinja os páramos da perfeição que militam contra as sua mazelas existenciais.
Essa "consciência" por não suportar seus fracassos escolhe seus deuses como parceiros e vicários de seus males; afinal, os deuses não são só bonzinhos...por isso, devem partilhar com ela (consciência), o doloroso preço de seu cáutero. Aliás, essa tem sido a mais poderosa reflexão que "o pobre silvícola pós-moderno" tem feito: A de ponderar sobre o culpado de sua culpa que os deuses e os "ismos", coniventes com seu ambiente, lhe legaram; e quando não refletem sobre o "peso dessa corte" (porque refletir é ume proposta sofisticada e que exige coragem existencial de um cérebro quase sempre preguiçoso e sempre indolor), prefere optar pelo niilismo. Assim, entre "caprichos" e "opiniões", homens e mulheres, propõem armistícios às suas melancolias e seus fantasmas.
Uma outra via pela qual o homem pós-moderno se defende da culpa é usando sua autonomia. Essa arrogância "cult" torna-o ilusória e provisoriamente independente dos deuses, dos ambientes e das pessoas. Nesse caso é fácil encontrá-lo "trash" no que se refere às questões da alma, das relações interpessoais e da grandeza do mundo espiritual. Ao final, portanto, se acha carente de consolação, conforto social e espiritual; não consegue, destarte, encontrar explicação para o descompasso entre a seu saber crescente e sua alma mendicante.
Talvez o que irá aproximar esse homem do "sí-mesmo" seja a conscientização de que ele é uma espécie de casa cuja as portas e janelas se abrem para o mundo, que objetos e conteúdos do seu mundo interior atuam sobre ele, mas não lhe pertencem; que a última esperança não está nele mesmo - vem de fora... além do seu imaginário, de toda a sua policiência e de todo o seu saber; que ele é pequeno demais para dar a si mesmo o título de "autônomo"; de que ele não é dono de sua própria "casa" - mesmo que tente substituir seus "deuses" pelos "ismos" pois que, sempre aquela odiosa reflexão, inopinadamente, emergirá dos abismos para jogá-lo novamente de volta à sua condição finita do eterno dependente.
Cícero Brasil Ferraz
15.1.14
SISTEMAS E PAPÉIS
Por mais libertários e independentes que sejamos, querendo ou não, cumprimos, sempre, papéis dentro de sistemas. É simplesmente impossível viver sem a função dessa cadeia "zoologicamente social". Senão os humanos não teimariam em subsistir em seu grupo; e é o que, na verdade, constitui a interface do espectro de sua individualidade.
Sistemas e papéis são uma fórmula, muitas vezes tácita, que o ser humano encontrou de se não autodestruir. É o seu grande arquétipo de "permanência móvel", através da qual ele muda, mas sem deixar de se auto-distinguir. Esse movimento de sobrevivência e de identificação é comum a todo e qualquer agrupamento étnico.
É possível que hajam imperceptíveis mudanças no ethos que, na prática, se acoplam behaviorísticamente ao sistema no tempo e espaço e provocam outras mudanças, até que, o sistema influenciado por elas, vão tomando forma de "macro-sistemas", mais atualizados e adaptados ao seu contexto vivencial.
Os papéis, dentro desses sistemas, quase sempre, são formatados através de fantasias, lendas, histórias e mitos. São legados genético-culturais que os antepassados reproduzem, como importantes formadores de nossas opções, opiniões, decisões, ações e reações. Lá, bem no fundo, somos o que genética, psíquica e socialmente herdamos. Cabe ao diferentes papéis que assumimos manter viva a "memória" do que somos e do que seremos na memória dos pósteres. Em todas as idades da vida (infância, adolescência, juventude, maturidade e senectude), obrigatoriamente, cumprimos nossos papéis dentro desses sistemas.
Mesmo quando criamos tensão dentro sistema (como soe acontecer na adolescência), na verdade, estamos "provocando" o sistema até o quanto lhe pode ser crível e sustentável. Essa tensão, às vezes, até enrijece e fortalece ainda mais a importância do papel a ser exercido naquele dado contexto social. Qualquer ação versus reação busca, na verdade, equilíbrio, constância, sobrevivência, perpetuidade através de um, muitas vezes, complicado movimento de "dinâmica repetitiva" (dialética histórica?), ou seja, estar sempre em movimento circular (repetitivo) para nunca deixar de ser o que é. Tudo pode mudar, de menos as hierarquias sustentadas pelos sistemas e papéis.
A partir da nossa "micro" cultura, é possível que julguemos um sistema familiar ou tribal estranho e diferente do nosso. Mas o que não se pode negar é que aquele sistema e papel sustentaram aquela cultura estranha, de tal modo que sobreviveram tanto quanto à nossa às crises, convulsões sociais, bolsões de resistência étnica e etc. Esses sistema e papéis podem, sob o nosso juízo, nos parecer xenófilos e até patológicos, mas serão sempre para aquela cultura simbióticos, sinérgicos e com alto poder de "feed-back" social. O que poderíamos chamar de "bio-filia étnica".
Como o homem pós-moderno arrosta esses sistemas e papéis? Qual é a sua postura dentro dessa "ditadura sistêmica e necessária" - aliás, a história da civilização só pode ser escrita diante da renúncia das liberdades instintivas, sem a qual nenhuma etnia sobreviveria- se ele não acredita mais em valores, em mitos, fantasias e utopias?
Se tudo em que ele acreditou até agora (religião, razão e ciência) não "deu em nada", o "nada" então foi que restou para acreditar. O niilismo então é mesmo o verdadeiro traço psíquico e social do pobre e decepcionado homem do século XXI.
Cícero Brasil Ferraz
1.1.14
O HERÓI QUE RESIDE EM NÓS
Com raras exceções, todo herói é sempre um suposto herói. Digo isto porque o sentimento que o motiva ou o embala, quase sempre, não passa de uma obstinação infantil contra o seu destino devastador; quando não, uma atitude presunçosa para encobrir um sentimento qualquer de inferioridade. Pode ser também que opte por uma saga heroica na certeza de fugir do enfado do cotidiano com suas exigências prosaicas e contumazes ou, então, fugir da paciência morna que exige a convivência com seus pares; por fim, transpor as limitações próprias de sua história que força-o ao caminho humilhante de ter que confessar "não sei", "não posso"...uma vida que no dia a dia não recebe aplauso, ovação ou glória. É possível, então, que em última análise, que esse herói que há em nós queira transpor a linha definida em bem traçada daquilo que poderia ser chamado de "rotina".
Para mais bem entender o exposto faz-se mister perguntar: Por quê causa ou motivo alguém luta "heroicamente"? Que valor tem isso para a humanidade? A partir de qual razão o herói quer superar a normalidade? O quanto há de racional nessa postura suprarracional? Será que a única saída é um possível sacrifício?
A coragem não é um ato cego ou irracional, como muitos podem supor. Na verdade o ato heroico está intrinsecamente lincado ao ideal e ao propósito último da existência.. Portanto, partindo dessa premissa, não há herói sem causa. Na verdade o herói calcula que quanto maior a causa, maior deve ser o risco e o possível sacrifício. Os grandes míticos e os reais são sempre pessoas que não se opõem à vida quando lhe pedem o sacrifício, e nem se opõem à morte quando a causa exige-se-lhe lutar para viver. Ao mesmo tempo que são serenos, pacíficos e harmônicos são, por outro lado, ousados,verdadeiros, destemidos e decididos. O herói não teme a vida, por ser sempre arriscado viver e nem a morte por ser abissal e ignota. A causa é, nesse caso, sempre maior do que qualquer sentimento.
Outra característica da coragem do herói é que ela sempre objetiva a alteridade. O outro, pelo outro, para o outro, por aquilo que necessariamente não é seu é a sua grande alavanca motivacional; é o que o desafia a atos supernaturais. Há que haver, sempre, um ente forâneo que o motiva à ação extraordinária. Cumpre à risca o seu epitáfio: Só tem razão para viver aquele que tem alguma causa porquê morrer..
Ps. Este texto é uma pequena homenagem ao Sr. Nelson Mandela.
Cícero Brasil Ferraz
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