Se não sabemos em que cremos, não sabemos quem somos. Mito e fé são forças insubstituíveis no que respeita à estruturação psíquica, social e espiritual na auto-definição de cada indivíduo.
Com o exposto retorno ao assunto mais preferido no meu blog: "O gato felix: Correndo em círculo atrás do rato". Creio que esse acesso foi tão expressivo dado ao fato das pessoas terem grande necessidade de cumprir o imperativo da Academia platônica: "Conheça-te a ti mesmo" (gnõthi seauton ou sauton com "e" contraído).
Se o nosso patrimônio fiduciário (de fé) deixou de ser um patrimônio vinculado pelo longo tempo e pelas duras e longas experiências dos nossos antepassados também, não podemos afirmar, com certeza, que o nosso "projeto de vida" seja, de fato, um projeto para a vida. Se, no dizer de Sartre, somos de fato "condenados à liberdade", ou seja, se somos obrigados a escolher e a definir constantemente, para aonde estamos indo com essas suposições (no caso) sem lastro étnico ou sem "arquivo genético"? Se a imagem que temos do nosso "self" é tão instantânea como voláteis são as nossas opiniões, que imagem temos de nós mesmos quando medida pela vulnerabilidade de nossos conceitos e opiniões? Daqui, a grande dificuldade que temos de nos posicionarmos, de nos definirmos enquanto "eu-autêntico". Quase sempre o conflito de nossa alma vem do fato de não podermos conhecer, a partir desses "instantâneos", a nossa verdadeira identidade.
Geralmente nossa individuação (Jung) acontece como se dá na construção de um edifício. Uma casa se constrói mediante a adição de alicerces, paredes, aposentos e corredores. Normalmente não se começa a construir e depois se demole um edifício quando ele está na fase final. Também, mutatis mutandis, não construímos nossa identidade com uma série de "novos começos" e novas "desconstruções", ad eternum. O ser para o futuro nunca o será se não o do a partir do seu gen e do seu ambiente histórico e vivencial (sitz im leben).
Antigamente os escritores, poetas e filósofos, por não terem fartura de tábuas de madeira ou de argila (modernamente nosso papel), cobriam com tintas os primeiros escritos daquelas tábuas para aproveitá-las novamente e, sobre o escrito "oculto", grafar novos textos.
Quantas vezes o homem pós-moderno, por não ter clareza de nada, tem criado apara si mesmo uma "identidade de palimpsesto". Como um filósofo disse algures: "Essa a identidade que se ajusta ao mundo em que a arte de esquecer é um bem não menos, e não mais, importante do que a arte de memorizar, em que esquecer, mais do que aprender, é a condição de contínua adaptação, em que sempre novas coisas e pessoas entram e saem sem muita o qualquer finalidade do campo de visão da inalterada câmara da atenção e em que a própria memória é como uma fita de vídeo, sempre pronta a ser apagada a fim de receber novas imagens, e alardeando uma garantia para toda a vida exclusivamente graças a essa admirável perícia de uma necessidade de auto-obliteração".
Essa é a condição sob a qual geme a identidade pós-moderna - ela é construída na nebulosa auto-eternizante incerteza de não saber quem é e nem para aonde vai; vai por-si, sem uma busca do projeto de encontrar um significante e de buscar um significado para a sua história; é a sensação ôca e angustiante de, por não-saber-quem- é, não poder, também, saber-para-aonde-vai.
O homem contemporâneo sofre, pode-se dizer, de uma crônica falta de recursos com os quais construiria uma identidade verdadeiramente sólida e duradoura capaz de ancorá-lo em uma certeza e, assim, suspender-lhe sua deriva abissal que só poderá ser suspensa ou vencida na intrigante realidade relacional de um alguém-que-possa ser, encontrar no outro-que-já-é, até a um nós-todos-que-desejamos ser.
Geralmente nossa individuação (Jung) acontece como se dá na construção de um edifício. Uma casa se constrói mediante a adição de alicerces, paredes, aposentos e corredores. Normalmente não se começa a construir e depois se demole um edifício quando ele está na fase final. Também, mutatis mutandis, não construímos nossa identidade com uma série de "novos começos" e novas "desconstruções", ad eternum. O ser para o futuro nunca o será se não o do a partir do seu gen e do seu ambiente histórico e vivencial (sitz im leben).
Antigamente os escritores, poetas e filósofos, por não terem fartura de tábuas de madeira ou de argila (modernamente nosso papel), cobriam com tintas os primeiros escritos daquelas tábuas para aproveitá-las novamente e, sobre o escrito "oculto", grafar novos textos.
Quantas vezes o homem pós-moderno, por não ter clareza de nada, tem criado apara si mesmo uma "identidade de palimpsesto". Como um filósofo disse algures: "Essa a identidade que se ajusta ao mundo em que a arte de esquecer é um bem não menos, e não mais, importante do que a arte de memorizar, em que esquecer, mais do que aprender, é a condição de contínua adaptação, em que sempre novas coisas e pessoas entram e saem sem muita o qualquer finalidade do campo de visão da inalterada câmara da atenção e em que a própria memória é como uma fita de vídeo, sempre pronta a ser apagada a fim de receber novas imagens, e alardeando uma garantia para toda a vida exclusivamente graças a essa admirável perícia de uma necessidade de auto-obliteração".
Essa é a condição sob a qual geme a identidade pós-moderna - ela é construída na nebulosa auto-eternizante incerteza de não saber quem é e nem para aonde vai; vai por-si, sem uma busca do projeto de encontrar um significante e de buscar um significado para a sua história; é a sensação ôca e angustiante de, por não-saber-quem- é, não poder, também, saber-para-aonde-vai.
O homem contemporâneo sofre, pode-se dizer, de uma crônica falta de recursos com os quais construiria uma identidade verdadeiramente sólida e duradoura capaz de ancorá-lo em uma certeza e, assim, suspender-lhe sua deriva abissal que só poderá ser suspensa ou vencida na intrigante realidade relacional de um alguém-que-possa ser, encontrar no outro-que-já-é, até a um nós-todos-que-desejamos ser.
Cícero Brasil Ferraz
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