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16.3.14

O ESTRANHO NO NINHO

O "pathos"  é um daqueles conceitos-metáfora que os gregos tão bem sabiam criar. Dele derivam outras variantes tais como simpatia, antipatia e apatia; e dele também o tão propalado conceito de empatia ( EM+PATHOS)
O "pathos grego" não é só um vocábulo; é-o, na verdade, um constructo, uma "relativnatüslich weltanschauung" (Max Scheler), uma maneira interativa de como alguém enxerga-sentindo o mundo de um modo diferente do seu, mas como se fosse o seu próprio. Pessoas, coisas, costumes e conceitos passam não só para a sua percepção mnemônica, mas também para o  EM do PATHOS (dentro; é isso que significa essa preposição na língua grega). Assim, EM+PATHOS, de onde deriva o verbete empatia, quer significar sentir dentro, doer dentro ou, ainda, ter paixão por algo e, principalmente por alguém.
Assim temos, portanto, o mais antigo conceito de empatia: Sentir o diferente dentro, como se fosse algo, algum ou alguém que sempre esteve ali; como algo que nos constituiu. Em outras palavras, como vulgarmente expressamos: é "estar na pele de alguém" ou, ainda, absorver a alteridade como composição hegemônica do si-mesmo.
A empatia não só capacita o homem entender e sentir o estranho como se fosse o seu próprio segmento, mas também possibilita que o relacionamento interpessoal se torne intrapessoal; que o estranho transite dentro de si como um "doméstico de absoluta confiança". A empatia é uma virtude que aprofunda as relações, relativiza as críticas frias e abre portas para um diálogo revolucionário e transformador. É nesse sentido que Breuer diz que  "as palavras curam".
O próprio "empático" (aquele que é tomado por esse sentimento-paixão) se compreende melhor, quando assim compreende o estranho que ora o habita. Cria aquele constructo de senso comum "de afeição das descobertas de suas verdadeiras diferenças"  quando, então, essa maturidade se fará "pontífice" do verdadeiro relacionamento interacional. Cria-se, com esse movimento biofílico, o que poderíamos chamar de "perspectivas recíprocas".
Só o pathos pode conceder ao homem a dor de conhecer o outro "lá dentro". Só se pode compreender os atos de outra pessoa se se puder imaginar quando que ele mesmo - o agente interacional-  praticaria atos análogos se estivesse na mesma situação, reguladas pelos mesmos motivos de por quê, orientado pelos mesmos motivos de para quê. Todas essas palavras compreendidas no mesmo sentido restrito da "típica" analogia, da "típica" uniformidade.
Compreendemos o estranho através dessa concepção "patológica", através dessa permutabilidade de ponto de vista; e, dessarte, se pode crescer em outras áreas da vida que somente serão conhecidas a partir do estranho que em mim se torna um-em-mim. Absorvemos e vivenciamos subjetividades e virtudes sem as quais jamais nos individuaríamos. 


Cícero Brasil Ferraz

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