Não há que se discutir a supremacia - ainda que evanescente - dos EUA sobre qualquer outra nação deste planeta. Seu modelo de organização social, seus antigos pressupostos fundantes de um mundo livre, sua dinâmica de mercado e, até mesmo, seu poder bélico, foram ( e ainda são) paradigmáticos para todos os povos desde que o May Flower aportou no Cabo Cod (Mss)..
Por incrível que possa parecer, fundamentaram essa estrutura admirável sob aquilo que chamo de "inimigo impossível de ser vencido" : A sua obsessão e a total "mania" (uso esta palavra no sentido fóbico) de que sempre está - e estará- sob um possível ataque inimigo (" afinal, eu não creio em fantasmas mas que há, há"; como diriam os argentinos). Isso está mesmo no "gen sócio-psíquico" dos filhos da outra américa. Numa linha bem definida no tempo e na história podemos destacar seus "inimigos" assim: Os índios, os ingleses, mais tarde, quando não tinham inimigos "exógenos" criaram um "endógeno" na guerra de secessão; e, ainda Hitler, os soviéticos, Komeine, Arafat, Saddam Hussein, Al-Qaeda, Ahmadinejad, mais recentemente Putin.
Só para abrir um parêntese, o 11 de setembro foi o momento mais sócio-orgástico dos vizinhos do norte. Foi a certeza irretorquível de que os fantasmas existem. A convicção que as sombras das ameaças eram, por dentro, hipostáticas. O Terrorismo ( uso "t" maiúsculo que de agora em diante é uma entidade) foi - e é- o pior de seus inimigos. Um inimigo sem pátria, sem bandeira, sem um presidente, sem hino ou sinetes. Um verdadeiro fantasma real! Mais do que um desastre social, o 11 de setembro foi um orgasmo fantasístico de um imaginário social fóbico.
Nações e povos, quaisquer deles, tem seus inimigos. Mas para os norte-americanos, eles não só existem como, quando não existem, são criados para, de alguma forma, manterem viva uma das poderosas "força ocultas" ( como diria Jânio Quadros) que os estruturaram sócio, psíquica, espiritual e materialmente. Apesar disso, e por isso, são o que são.
Todo status de ordem social (familiar, institucional, religioso, político) produz determinadas fantasias de perigos possíveis que possam ameaçar a sua identidade. Cada sociedade, porém, gera fantasias elaboradas segundo a sua própria medida - segundo a medida do tipo de ordem social que se esforça em ser. De um modo geral, tais fantasias tendem a ser imagens espelhadas da sociedade que as gera, enquanto a imagem de ameaça tende a ser um auto-retrato da sociedade com um sinal negativo. Ou para expressarmos em termos psicanalíticos, a ameaça é uma projeção da ambivalência interna da sociedade sobre seus próprios recursos, sobre a maneira como vive e perpetua o seu desenho existencial.
Uma sociedade insegura de sua sobrevivência seja ela qual for, irá desenvolver, indefectivelmente, uma mentalidade de "fortaleza sitiada". Mas os inimigos que lhe sitiaram os muros são os seu "próprios demônios interiores" - os medos reprimidos e circundantes que lhe permeiam a vida diária e a "normalidade", e que, no entanto, a fim de tornar suportável a realidade diária, devem ser dominados, extraídos do cotidiano vivido e emoldurado em um "corpo estranho", um inimigo tangível com quem se possa lutar, e lutar novamente , e lutar até sob a esperança de vencer.
Afinal, o Superman em (in)sã consciência jamais diria ao Ironman, que confidenciasse ao Batman, que existe um Funk Phantom a nos proteger por aí, não é mesmo Capitão América?
Cícero Brasil Ferraz
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