Com raras exceções, todo herói é sempre um suposto herói. Digo isto porque o sentimento que o motiva ou o embala, quase sempre, não passa de uma obstinação infantil contra o seu destino devastador; quando não, uma atitude presunçosa para encobrir um sentimento qualquer de inferioridade. Pode ser também que opte por uma saga heroica na certeza de fugir do enfado do cotidiano com suas exigências prosaicas e contumazes ou, então, fugir da paciência morna que exige a convivência com seus pares; por fim, transpor as limitações próprias de sua história que força-o ao caminho humilhante de ter que confessar "não sei", "não posso"...uma vida que no dia a dia não recebe aplauso, ovação ou glória. É possível, então, que em última análise, que esse herói que há em nós queira transpor a linha definida em bem traçada daquilo que poderia ser chamado de "rotina".
Para mais bem entender o exposto faz-se mister perguntar: Por quê causa ou motivo alguém luta "heroicamente"? Que valor tem isso para a humanidade? A partir de qual razão o herói quer superar a normalidade? O quanto há de racional nessa postura suprarracional? Será que a única saída é um possível sacrifício?
A coragem não é um ato cego ou irracional, como muitos podem supor. Na verdade o ato heroico está intrinsecamente lincado ao ideal e ao propósito último da existência.. Portanto, partindo dessa premissa, não há herói sem causa. Na verdade o herói calcula que quanto maior a causa, maior deve ser o risco e o possível sacrifício. Os grandes míticos e os reais são sempre pessoas que não se opõem à vida quando lhe pedem o sacrifício, e nem se opõem à morte quando a causa exige-se-lhe lutar para viver. Ao mesmo tempo que são serenos, pacíficos e harmônicos são, por outro lado, ousados,verdadeiros, destemidos e decididos. O herói não teme a vida, por ser sempre arriscado viver e nem a morte por ser abissal e ignota. A causa é, nesse caso, sempre maior do que qualquer sentimento.
Outra característica da coragem do herói é que ela sempre objetiva a alteridade. O outro, pelo outro, para o outro, por aquilo que necessariamente não é seu é a sua grande alavanca motivacional; é o que o desafia a atos supernaturais. Há que haver, sempre, um ente forâneo que o motiva à ação extraordinária. Cumpre à risca o seu epitáfio: Só tem razão para viver aquele que tem alguma causa porquê morrer..
Ps. Este texto é uma pequena homenagem ao Sr. Nelson Mandela.
Cícero Brasil Ferraz
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