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3.8.13

E A DEMOCRACIA?

Desde o Séc. V a.C (O século de Péricles), na Grécia Antiga, o homem buscou um modelo político em que sua participação no governo das cidades-Estado se tornasse mais efetiva e factível nas suas famosas assembléias (Eklesias), geralmente convocadas para as ágoras centrais onde debatiam, junto com representantes do governo, os assuntos que eram mais palpitantes. Desse modo, o cidadão comum (exceto escravos e camponeses) distribuía com seus representantes direitos e responsabilidades.
Já, na Era Cristã, a Igreja (o Clero, é claro) assume  o lugar da Eklesia ("Igreja" ou assembléia) para, em nome de Deus, administrar os negócios temporais e espirituais. O poder agora está nas mãos de Deus (ou deus?). Esse modelo vigora até os Sec. XVI, quando retorna o antropocêntrico mundo ideal (das ideias): O período chamado iluminismo. E a  razão se torna, assim, a medida de todas as coisas. Nesse período as estruturas governamentais e ordenamentos jurídicos sofrem profundas transformações.
A primeira grande decisão dos humanistas foi tentar substituir  "Deus" pelo homem (ratio); colocar o homem no centro do universo; divinizá-lo ao substituir o Eu-Sou (Iaweh) pelo (cogito) ergo sun. Sua ambição foi a de instituir uma ordem inteira e absolutamente humana na terra. Uma espécie de um "novo" ponto de Arquimedes em torno do qual a terra e, até onde a inteligência humana o levasse, fosse fomentada, alimentada. O que só podia ser explicada à luz da razão. O Século XXI desmoronou o sonho iluminista e, também, o cientificismo do Sec. XX quando concluiu que não existe verdade mas, sim, verdades. O altivo e arrogante "homem-científico" (da ciência) se atrofiou ao ponto de viver hoje num nosocômio onde também moram a religião, a fé e a razão. Hoje, a ciência inválida, cronicamente desacreditada, tem como consolo acompanhar a vida passar pela janela de seu ilimitado espaço geográfico.
A pergunta - muito mais retórica e talvez, nela mesma se encontre a resposta- é: Como uma orientação filosófica, como a que temos hoje, que indefectivelmente leva o homem do antropocentrismo para o individualismo, quer ser democrática? Se a democracia pressupõe a participação de todos? É nesse nó górdio e estrangulador é que nasce, morre, revive a nossa confusa sociedade.
O homem comum da pólis (político) da pós-modernidade, tomou uma posição radical em relação a esse "nó". Desistiu da sociedade, enquanto agremiação política e, o que é mais triste, desistiu de si mesmo, enquanto partícipe e co-gestor de seu Estado. Ele já desistiu de uma sociedade ideal, sem distinção de raça, cor, estrato social, terceiromundização, ideal, em favor do qual, seus predecessores tanto lutaram. Isso não é mais a tônica do desidealizado homem pós-moderno. Repito o que algures escrevi: A solução tomada pela sociedade pós-moderna, através de seus atores, foi a privatização de sua própria vida. Privatizar aqui significa não se importar, se isolar, não tentar, não ousar...simplesmente desistir.
Por quê?
O potencial de suas inteligências e competências não foi capaz de transformar a sua individualidade num ser integrado ao próximo e ao seu mundo. O seu imenso universo se tornou em um "one-verso".

Cícero Brasil Ferraz

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