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18.7.13

A POLÍTICA DE MOVIMENTO

Em época de efervescência política, tal como vivemos nos dias atuais, faz-se mister voltar a nossa avaliação e ajuizamento para além dos diversos partidos que vicejam por aqui; para além dos "ismos" (socialismo, comunismo, democracismo e outros que tais), assim, voltar os olhos para a realidade basilar do homem como "ser político" como bem disse  Aristóteles e, também, gregariamente, para o "habitante de uma polis" (cidade). Então, não só por questões etimológicas mas também práticas, a política e a cidadania militam  inseparavelmente do mesmo lado e pelas mesmas razões. Quero dizer, portanto, toda a política dever ser, por ser da "polis", política cidadã. E, também, aquém de qualquer partido ou "ismo" há que ser analisado as matrizes sobre as quais descansa a razão última de se "fazer política".
Não consigo ver política - talvez por ser míope demais para essa tarefa- como uma decisão que devemos tomar por estarmos filiados a um partido  e nem em cima de um nome, por mais caudilhesco e populista que possa ser esse nome. Destarte, vejo-a como dois movimentos distintos e anfóteros, até. Refiro-me àquilo que denomino "política de movimento" por um lado e, por outro, "política de campanha". Aquela (política de movimento) olha para o investimento e o crescimento a longo prazo, acima de qualquer "ismo"; é muito mais de caráter "espiralado", crescente e idealista. Por ser um ideal a  ser alcançado  quer criar consciência cidadã e não cativar eleitores. Já esta (a política de campanha), no entanto, é de ocasião; usa utilitariamente qualquer "ismo", não por acreditar nos seus pressupostos ideológicos (pelo menos, em terras tupiniquins é assim) e, sim, para utilizar a validade sazonal de seu conteúdo e de sua protuberância social que vigora num determinado tempo.
A "política de movimento", dada a sua natureza, não aceita conchavo, detesta a injustiça e repudia a pilhagem. Seus correligionários estão acima de um "outro" individualizado; pelo contrário, sua pregação assume a responsabilidade de que se pratique a justiça, ou seja, que se conceda o direito de um "outro qualquer" exigir, cobrar, contribuir e agregar projetos para o bem-comum; propõe uma justiça cidadã -  aquela que concede ao outro o mesmo grau de liberdade real e positiva que seus próprios propugnadores desfrutam. E assim, por estar acima dos próprios partidos, por não se caracterizar por siglas, hinos, logotipos, nomes e interesses particulares esta política é um movimento dinâmico, integrador, agregador e não uma ilha chauvinista.
Considera a isonomia de tratamento a condição sine qua non para sua subsistência. Sem essa isonomia o seu movimento perde o vigor, tal qual um rio que, por perder suas curvas, perde também sua força e dinâmica. O seu movimento não só mantém no top de seu schedule a justiça social, o caráter ético da relação com a coisa pública ( res-pública) mas, também, apoia e promove a liberdade da controvérsia como promotora de um equilíbrio saudável nas discussões corriqueiras da sociedade nos seus múltiplos estratos e estamentos.
A "política de movimento" exige de seus vaticinadores a capacidade de buscar objetivos específicos no meio de circunstâncias voláteis. Na verdade usa o caráter fissíparo da história para empurrá-la rumo à marcha dos acontecimentos pela qual buscará a maturidade das relações políticas, berço de onde emergirá, como anteviram - cada um dentro de seu pressuposto- pensadores como Paulo de Tarso ("nova criatura em Cristo),  Mao ("novo homem socialista")  e Paul Tillich ( "new being ), ou seja, estágio maduro da humanidade, aquele que colocará de lado a atual  infantilidade em que vivemos. Esse novo homem presume que as coisas devem ser totalmente mudadas para que possa nascer um novo tipo de beleza de onde fluirão as justas duradouras fruições dos prazeres distribuídos das riquezas oriundas das "polis". Assim ela dará legitimidade aos seus objetivos e, ao mesmo tempo, será capaz de conferir sentido a qualquer "ismo" que por acaso venha a assumir os rumos político-sociais da cidade.

Cícero Brasil Ferraz









3.7.13

HOMO TOTAL

Fiquei perplexo -sem saber que tipo de sentimento deixaria aflorar- ao ser surpreendido com a notícia (BBC Brasil) de que alguns gays dos mais radicais e renomados (Jonathan Stroff, Legba Carrefour e outros) eram contra o "casamento gay".
É claro que as razões que me levaram a concordar com eles não eram as mesmas; mas mesmo assim, tivemos um ponto em comum: É, no mínima uma bizarrice, uma caricatura incoerente, um simulacro distorcido e uma vesguice histórica. Não quero aqui neste espaço - não é o momento e nem o lugar apropriados- tratar das incompatibilidades filosófica, antropológica, anatômica, fisiológica, psicológica e teológica da união "homo". O que me espantou foi o fato dos próprios homossexuais ( os mais pensantes, pelo menos) serem contra o casamento gay dentro do modelo tradicional no qual os "homos" querem se "encaixar". (Não vai aqui nenhum trocadilho).
Já disse em várias oportunidades aqui nesse blog que inovar e quebrar paradigmas fundamentaram a  história de conquista e de sucesso do homo sapiens. Se alguém ou alguma ideia quer ser relevante na história deve obedecer a quebra de paradigma e, ainda, criar um outro, totalmente outro -incomparavelmente outro sob pena de, se não assim proceder, fazer apenas "remendo novo em pano velho", como ensinou o Mestre Galileu.
Mutatis mutandis, se o movimento "homo" quer renovar  ("causar"?) e quebrar paradigmas deve abandonar o modelo patriarcal e machista de união esponsal, inclusive o uso indevido do vocábulo "casamento", pois o seu back ground é totalmente "hetero". Casamento é  a atitude tradicional de um homem que pede a um outro homem a "mão" de sua filha e a conduz para o altar diante de Deus, do ministro e das testemunhas para, depois, então, conduzi-la para a sua casa (pelo menos é assim dentro da nossa cultura ocidental).
Então, se o movimento "homo" quer criar algo paradigmático não deve, por isso, copiar princípios arquetípicos, dogmas religiosos de modelos patriarcais. Há que se inventar um novo jamais visto de comunhão erotoafetiva, muito além de uma certidão do registro civil ou de um CNPJ garantidores do cumprimento das assinaturas. Não creio ser justo usufruir daquilo que se quer abandonar; nem mesmo "adotar" filhos que proveem de união "hetero". Nesses casos, deve-se buscar outro paradigma que ainda não conhecemos. Como bem disse um famoso homossexual: "Estive em alguns casamentos gays adoráveis, mas imitar o casamento heterossexual tradicional é estranho e não entendo porque alguém faz isso...' Eu também, não.
Pergunto: Por que algumas lésbicas feministas (nem todas são), ao se unirem tomam modelos machistas (gestos, muxoxos, vestuários, estereótipos gerais) e patriarcais para selarem essa união? Se são ousadas para tomarem posturas radicais, sejam também por criarem outros modelos radicais de união. Se não, tornar-se-ão como leões que imitam leões, até se tornarem em macacos.





Cícero Brasil Ferraz