Assuntos

19.4.13

O MAGNICÍDIO

 O poder criativo do homem chamado pós-moderno parece-me, em primeira plana ter morrido ou, então, no mínimo, atrofiado. Ou ele não nasce ou, se nasce, não se desenvolve dado infertilidade do solo intelectual que o tem originado. Não se vê mais um novo filósofo jovem ( e não me diga que só a idade faz  sábios, pois que, a única coisa que idade sabe fazer é o velho); não se vê mais alguém sobressair  de entre as massas. A mediocridade ( o padrão médio) como déspota subjuga-nos a todos ao lugar-comum, ao esperado, aos clichês e ao senso comum.
Não creio que o homem do séc. XXI seja menos inteligente do que os do séc. XX ou do XIX e nem ao do séc. V a.C. Creio, isso sim, numa cultura de massa na qual o Eu Ideal (ichselbst) se tornara totalmente inibido por um virtual "eu-total". Esse "eu-total" é o da burocracia, da administração, da dominação e o da subjugação do Eu-Ideal em favor do ideal sem identidade própria, que hoje chamamos de "eu" da cultura globalizada ou globalização do "eu" sem cultura, conquanto cheio de informações.
O ambiente próprio onde cresciam os gênios: a autoridade individua do pai, o carinho específico e particular da mãe,e relação estreita com o pequeno grupo de irmãos ( o velho ninho que agasalhava os princípios da hierarquia e o respeito às individualidades), deu lugar ao processo massivo da "desindividualização" dos homem, promovido pelo grande e avassalador "eu-global", ou seja, a individualidade deu lugar a "globalidade". Num grande curriculum não se exige mais um "eu" a partir  da individualidade e, sim, da "globalidade". A consciência moral e a responsabilidade pessoal degeneraram "objetivamente" sob as condições da burocracia total, dentro da qual é extremamente difícil atribuir-se ainda uma autonomia, pois é o aparato que imperiosamente determina a tal autonomia pessoal, pondo-se acima dela, "castrando" o desenvolvimento e a satisfação idealizadora da funções inatas da cada indivíduo.
O que acontece na área da falência da produção intelectual -mutatis mutandis- também se dá no campo das relações sociais:
Ficamos deprimidos e frustrados quando a mídia relata de forma tão crua e nua a banalização da morte. Na verdade, antes mesmo dessas mortes, outra mais hedionda aconteceu: a morte da individualidade. Quem morre agora não é mais um indivíduo e, sim, uma insignificante e minúscula parte do grande "eu-global"; e quem pratica o crime também não se sente responsável, enquanto indivíduo, visto que ele também nunca foi "observado" (querido) como indivíduo, a ele não se deu a importância que um Eu-Total tem como criador de um construto social. Tudo é banal quando o indivíduo não se sente parte, enquanto indivíduo, da construção do todo.
Como a grande burocracia global tem tentado "anestesiar" a incapacidade desse homem pós-moderno de criar e, por outra lado, o seu grande poder de "descriar" (matar)?
A saída é antiga e eficiente: Pão e circo. A indústria do entretenimento entra nessa hora como o grande apanágio libertador da angústia de não-ser alguém. Como nada mais pode ser personalizado, nada mais justo do que criar o entretenimento também de massa. E assim, no meio da massa, o Eu novamente é empanada pela "inteligentsia" do aparato burocrático. Novamente ele perde o seu valor intrínseco dando lugar ao eu-global.. É a total e absoluta privatização da individualidade, do poder criativo de um eu consciente, da capacidade de se autoenxergar como alguém e não como massa de manobra de "eu" que não o seu "Eu-Total". Daí a grande esquizoidia que afeta em pequena, média ou grande medida a todos nós.
Cícero Brasil Ferraz

4.4.13

"DEUS ESTÁ MORTO" (?)

                                          
                                                       "DEUS ESTÁ MORTO" (?)

Quando Nietzsch (1844-1900) "profetizou" que Deus estava morto, os pensadores da época e também o vulgo, que acessavam  seus escritos, imaginaram que o discípulo de Zaratrusta (ele próprio), estava a vaticinar a vitória apocalíptica do ateísmo e que destronava de vez, assim, o eclesiocentrismo medievo. Tredo engano! Não era que estava a pregar.
O que, para além disso, filosofou, e com toda a razão, é que Deus morreu porque ele não era mais necessário; no mínimo, quanto ao máximo, se tinha sido no passado um bem, era-o, agora, em sua época, um bem totalmente desnecessário. Em outras palavras: Até então, quando o homem tinha necessidades fisiológicas ou questionamentos filosóficos buscava encontrar respostas no campo da metafísica e no mundo da fé. Então, "o homem adulto e iluminado" (filho do iluminismo) encontra, muito além de uma fé infantilizada, a razão como resposta última para as sua mais patentes carências e para os seus mais latentes medos. A razão, assim, se tornou o fanal que levaria o homem moderno por entre as vagas inconstantes da história a um, por fim,  porto seguro. Deus "morreu" porque foi substituído; enfim, abandonado.
Quando dizia que "Deus está morto", estava fazendo, na verdade, uma crítica sardônica ao homem moderno que substituiu o Deus da metafísica por um outro deus: a razão. Se o Deus da metafísica não levou o homem a nada, para muito aquém, também, o deus-razão. Tinha com back-ground o mesmo contexto  que fizera explodir a Primeira Grande Guerra, um pouco mais tarde É o que ele chamou de niilismo: um homem sem Deus e com uma razão inócua, no que tange a solução última do desespero humano. A razão não podia ser beatificada como mensuradora infalível da medida e do sentido de todas as coisas. Os eventos posteriores  denunciariam a razão como um deus fragilizado e impotente. Novamente havia um deus morto. Isso é a essência do seu niilismo (nadismo?). Nietzsch realmente tinha razão: Deus havia morto.
O que esse homem moderno, livre do "infantilismo da metafísica" imposto pela Igreja havia alcançada com esse novo deus senão genocídio, fome, pestes e tantos outros monstros que assombravam a humanidade e que o novo deus não também não vencera, embora houvesse prometido uma nova ordem, um novo tempo e uma nova humanidade.
A razão - no sentido em epígrafe- desmoralizada daria, então, um rebento ao mundo, que ainda hoje chamamos de ciência. Ela, a ciência, filha do racionalismo, seria, uma nova divindade que certamente daria a tão sonhada autonomia a esse homem moderno. Ela não somente observaria os fatos, para dar-lhes racionalidade, como fizera a razão, mas iria interferir no homem, na natureza  e prometia trazer uma época de cura para todas as patologia ( doenças, pestes e epidemias) e, também, riqueza no campo (vencer o grande leviatã da história humana, a fome). Essa mesma deusa foi genitora de Segunda Grande Guerra e da descoberta da bomba atômica. Aliás, o maior desastre que a mente humana pode criar.( Ainda bem que Nietzsch não estava vivo para ver isso).
Mais uma vez frustração: Um deus que não tem todas as respostas para todas as necessidades humanas. O homem moderno errou em curvar-se incondicionalmente diante desse deus. Nem sempre somente aquilo que é verificável e quantificável é verdadeiro. Se a ciência se prende somente àquilo que é verificável e quantificável ela poderá (como foi) ser surpreendida e confessar-se muito limitada. Esses aspectos da verdade não existem sem outros movimentos pré-reflexivos, apriorísticos e não raras vezes inconscientes. Muito antes de conhecermos cientificamente as verdades, somos conhecidos. Não sabemos de um tanto de " razão que a nossa razão desconhece" Pascal (1623-1662) e que, por conseguinte, a ciência jamais poderá alcançar.
É óbvio que o leitor acostumados aos meus textos sabe que sou plenamente a favor da pesquisa, do desenvolvimento tecnológico sustentável e do avanço intelectual da humanidade. Só não posso me conformar que esse tão pouco tudo da ciência dite, em nome de uma verdade toda, a ética e os contornos anímicos da humanidade. Só para mencionar um exemplo, a ciência não tem direito de levar, a toda e qualquer consequência, o avanço no campo da genética. Pode chegar a um ponto em que a ética deverá bradar: daqui para frente, não!
Aqui chegamos:
Os. Migrantes da Terra. Tão transcendentais! Será que não podemos chegar a uma transcendência que dê sentido último ao nosso conhecimento? Ou a uma fé que ilumine a nossa desgastada razão?

Cícero Brasil Ferraz










COMO SE TORNAR "INTELIGENTE"



Se você leu primeiro o título em epígrafe e não o seu conteúdo, é possível que lhe tenha soado  como um certo tom de pedantismo escolástico ou com um certo ar professoral de um enciclopedista. Na verdade, se o fiz, foi exatamente porque tem sido o meu próprio caminho para mundo do saber. Sou uma pessoa muito limitada. Aprendi a ler aos nove anos de idade. Talvez, devido a uma hiperativivdade ou, ainda, quem sabe, por uma taquicinesia qualquer. Aprendi mais tarde a gostar de ler e me afeiçoei às riquezas idiossincráticas dos fonemas do nosso vernáculo e das de outras sonografias étnicas.
Portanto, muito mais do "dar uma aula", quero tão somente facilitar, talvez, a sua caminhada no longo e pedregoso caminho do saber. Creio que o mais ignaro dos homens é aquele que nunca se perguntou porquê ainda não sabe; ou aquele que pensa que o que ele é sabe é tudo que todo mundo necessitaria saber. Conhecer é ralacionar-se; relacionar-se com seres humanos, animais e com coisas inanimadas. Algumas "são" e outras somente "estão" lá; tanto aquelas como estas são dotadas de conteúdos riquíssimos que esperam de "braços abertos"  o nosso refrescante mergulho para, depois, então, sairmos de lá encharcados e lambuzados do "novo saber".
Para tanto, contudo, necessitamos dilatar os nossos sentimentos. Só raciocinamos sobre aquilo que nos chama atenção; então, o quanto mais formos dispertos para movimentos "estranhos" (desconhecidos) dos homens, da natureza, dos fatos históricos quanto mais teremos que criar novos caminhos, para novas sinapses.Esse "movimento emocional" (inteligência emocional) nos levará peremptoriamente ao "movimento racional" (inteligência racional ou analítica).
Ainda há, sem dúvida, o saber do mundo da arte, da criação, das genialidades (inteligência espiritual). Até isso podemos "aprender". Geralmente esses "insights" (e isso tenho ouvido em muitos depoimentos desses gênios) "aparecem" depois de grande tensão na busca de um saber desconhecido. É na "tensão" - e somente na "tensão" - é que as ideias aparecem, só que difusas e desconectadas; novas, mas assimétricas. Como o esgotamento é intenso, a mente é "obrigada" a repousar (relaxar) e é aí - exatamente aí, no ócium - que, o que já existe como essência, assume a forma de existência consciente. Ou seja, o trablho do gênio se distribui assim: noventa por cento de "transpiração" e dez por cento de "inspiração". Talvez você não possa ser um gênio, mas poderá, pelo menos, copiá-lo; então você o será.
Depois deste breve enunciado, vamos às dicas:

1. Comece a ler e a se interessar por coisas e assuntos que estão além de sua compreensão.
No começo a sua apreensão será mínima para depois, então, essas mínimas partes que vão se ajuntado, a medida que você repete o exercício,  formam um dégradé e, logo, o conhecemento "brotará" sem nenhum aviso ou "ordem" objetiva, como um mosaico integrado;

2 Só esse novo conhecimento poderá levá-lo a outros novos saberes, reservados somente aos "iluminados";

3. Comece a observar e a memorizar o modo que aquela (s) pessoa (S) que você julga inteligente enxerga e explica coisas, fatos, acontecimentos e costura seus ideais;
Quase sempre ele enxerga com eloquência e grita com os seus olhos.

3. O gozo de aprender só existe no conhecimento do novo, aquele que não está no nível de sua compreensâo imediata; essa compreensão imediata é um privilégio das inteligências "in natura";

4. Amplie seu vocabulário porque uma boa linguagem vernacular é, antes, intralinguagem.
 O saber só é verdeiramente compreensível quando o seu portador o explica a si mesmo pela intralinguagem. Somente as suas palavras podem convencer o falante que ele tem razão.

5. Todo conhecimento do sujeito quer explicar aquilo que, no máximo, existe de real no objeto; quer ver, explicar, sentir o objeto dentro de si para depois, então, "vomitá-lo" para o fora de si, onde o conhecimento lhe é autoexplicado;

6. Use instrumentos (microscópio, computadores, por exemplo) para uma boa propedêutica; eles lhe forçarão a aprofundar e ampliar os seus "insights";

7. Veja os nomes dados às coisas não só como nomes e, sim, como tipologias;
Ex.:  Quando a palvra "homem" é lançada, a que ou em que contexto, esse "homem" está preso? Em que saber ele é colocado? Em que área do conhecimento se referem a asse homem? O "homem" de Karl Marx não o mesmo "homem" de Freud ou de Buda, por assim dizer.

8. Enfim, só podemos compreender bem as coisas quando pudermos explicá-las bem.