"DEUS ESTÁ MORTO" (?)
Quando Nietzsch (1844-1900) "profetizou" que Deus estava morto, os pensadores da época e também o vulgo, que acessavam seus escritos, imaginaram que o discípulo de Zaratrusta (ele próprio), estava a vaticinar a vitória apocalíptica do ateísmo e que destronava de vez, assim, o eclesiocentrismo medievo. Tredo engano! Não era que estava a pregar.
O que, para além disso, filosofou, e com toda a razão, é que Deus morreu porque ele não era mais necessário; no mínimo, quanto ao máximo, se tinha sido no passado um bem, era-o, agora, em sua época, um bem totalmente desnecessário. Em outras palavras: Até então, quando o homem tinha necessidades fisiológicas ou questionamentos filosóficos buscava encontrar respostas no campo da metafísica e no mundo da fé. Então, "o homem adulto e iluminado" (filho do iluminismo) encontra, muito além de uma fé infantilizada, a razão como resposta última para as sua mais patentes carências e para os seus mais latentes medos. A razão, assim, se tornou o fanal que levaria o homem moderno por entre as vagas inconstantes da história a um, por fim, porto seguro. Deus "morreu" porque foi substituído; enfim, abandonado.
Quando dizia que "Deus está morto", estava fazendo, na verdade, uma crítica sardônica ao homem moderno que substituiu o Deus da metafísica por um outro deus: a razão. Se o Deus da metafísica não levou o homem a nada, para muito aquém, também, o deus-razão. Tinha com back-ground o mesmo contexto que fizera explodir a Primeira Grande Guerra, um pouco mais tarde É o que ele chamou de niilismo: um homem sem Deus e com uma razão inócua, no que tange a solução última do desespero humano. A razão não podia ser beatificada como mensuradora infalível da medida e do sentido de todas as coisas. Os eventos posteriores denunciariam a razão como um deus fragilizado e impotente. Novamente havia um deus morto. Isso é a essência do seu niilismo (nadismo?). Nietzsch realmente tinha razão: Deus havia morto.
O que esse homem moderno, livre do "infantilismo da metafísica" imposto pela Igreja havia alcançada com esse novo deus senão genocídio, fome, pestes e tantos outros monstros que assombravam a humanidade e que o novo deus não também não vencera, embora houvesse prometido uma nova ordem, um novo tempo e uma nova humanidade.
A razão - no sentido em epígrafe- desmoralizada daria, então, um rebento ao mundo, que ainda hoje chamamos de ciência. Ela, a ciência, filha do racionalismo, seria, uma nova divindade que certamente daria a tão sonhada autonomia a esse homem moderno. Ela não somente observaria os fatos, para dar-lhes racionalidade, como fizera a razão, mas iria interferir no homem, na natureza e prometia trazer uma época de cura para todas as patologia ( doenças, pestes e epidemias) e, também, riqueza no campo (vencer o grande leviatã da história humana, a fome). Essa mesma deusa foi genitora de Segunda Grande Guerra e da descoberta da bomba atômica. Aliás, o maior desastre que a mente humana pode criar.( Ainda bem que Nietzsch não estava vivo para ver isso).
Mais uma vez frustração: Um deus que não tem todas as respostas para todas as necessidades humanas. O homem moderno errou em curvar-se incondicionalmente diante desse deus. Nem sempre somente aquilo que é verificável e quantificável é verdadeiro. Se a ciência se prende somente àquilo que é verificável e quantificável ela poderá (como foi) ser surpreendida e confessar-se muito limitada. Esses aspectos da verdade não existem sem outros movimentos pré-reflexivos, apriorísticos e não raras vezes inconscientes. Muito antes de conhecermos cientificamente as verdades, somos conhecidos. Não sabemos de um tanto de " razão que a nossa razão desconhece" Pascal (1623-1662) e que, por conseguinte, a ciência jamais poderá alcançar.
É óbvio que o leitor acostumados aos meus textos sabe que sou plenamente a favor da pesquisa, do desenvolvimento tecnológico sustentável e do avanço intelectual da humanidade. Só não posso me conformar que esse tão pouco tudo da ciência dite, em nome de uma verdade toda, a ética e os contornos anímicos da humanidade. Só para mencionar um exemplo, a ciência não tem direito de levar, a toda e qualquer consequência, o avanço no campo da genética. Pode chegar a um ponto em que a ética deverá bradar: daqui para frente, não!
Aqui chegamos:
Os. Migrantes da Terra. Tão transcendentais! Será que não podemos chegar a uma transcendência que dê sentido último ao nosso conhecimento? Ou a uma fé que ilumine a nossa desgastada razão?
Cícero Brasil Ferraz
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