Não há como discordar: A violência que campeia a sociedade brasileira do século XXI passa impreterivelmente pela família. Por mais que concordemos que o fator socioeconômico - a velha e insistente divisão binômica pobreza-riqueza - contribua com uma parcela considerável para com a insopitável escalada desse distúrbio social, nada é mais deletério que a desestruturação da família; pelo menos do modo como a conhecemos há séculos: Pai, mãe e filho(s).
Sem saber o que fazer antes que outro construto se instale educadores, gestores públicos, pais-mães tentam canalizar os infantes para creches, escolas, babás, vovós e outros ad hoc. Se vamos criar um outro paradigma - se é que podemos- até que chegue, haveremos de conviver com este grave atormentador e convulsivo momento da historiografia larária tupiniquim.
Por outro lado (e por causa disso), o que resta à nossa progênie é uma clara sensação de abandono, de desprezo, de desvalorização humana. Nossos filhos sofrem - creio eu - de um terrível senso de abandono, de pertença deslocada para um outro sítio que não aos do afeto. A resposta é inequívoca: Violência. Violência com todas as suas variantes fruto desse vazio existencial, do desapego afetivo ou do pior dos abandonos, o abandono moral.
Em nós, os pais, o que fica é o sentimento do dever não cumprido, o obsessivo pensamento que "não precisava ser necessariamente assim"; uma espécie de "dívida impagável" que um danoninho ("que vale por um bifinho") ou uma viagem à Disney não podem quitar.
Fazemos de nossas casas um encontro ocasional de homem (marido, quando se tem), mulher (na maioria "pãe", pai-e-mãe ao mesmo tempo) e filho(s) sem nenhum vínculo estruturante, quase sempre à noite, depois de longos períodos isolados uns dos outros, e chamamos isso de família ou de lar.
Esta desestruturação gera emoções descontroladas, desvios na sexualidade, incapacidade de interagir, desprestígios às hierarquias e falta de propósito para com a vida. Todos os valores que fundamentaram a sociedade até então, não fazem mais sentido algum para os filhos dessa novas famílias, o que gera uma cultura de narcisos perenes e de individualista atemporais. O que só faz gerar grandes conflitos entre pais e filhos, alunos e professores, clérigos e fiéis, autoridades e cidadãos.
Vivemos agora no meio deste cipoal: Famílias recompostas, famílias destruídas, casais homossexuais com desejo de adotar filhos, famílias monoparentais (de um só cônjuge), família de mãe solteira com um ou mais filhos e família de produção independente. Como, pergunto eu, criar um novo modelo de família conciliando essas configurações? E, ainda: Que tipo de geração deixaremos para a construção do futuro? Ou não teremos futuro? Somente fatos no-aqui-e-agora o que, na verdade, nem merecerão uma análise?
Cícero Brasil Ferraz
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