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4.5.13

LALIA, ALALIA E DISLALIA

Com o avanço insopitável das mídias, sobretudo, as digitais, corremos o sério risco de morrermos na solidão no meio de todo mundo. É que, aos poucos, nos submetemos à linguagem digital e, como sabemos, ela não esgota todas as necessidades de todas as linguagens de que somos detentores enquanto seres gregários e comunicantes. É possível que estejamos nos empobrecendo naquilo que exatamente nos difere como seres que pensam, falam e se comunicam de forma "holofônica". Podemos até falar sem pensar, mas nunca pensar sem falar; inclusive em nossos solilóquios. Não podemos observar, raciocinar ou nada concluir se não for via vocabulário interno; não podemos, externamente nos fazermos entender senão, também, por meio de um dos muitos tipos de linguagem que usamos, no caso, a fônica.
Se de um lado avançamos no mundo cibernético ( e isso em parte é bom), por outro, diminuímos a nossa capacidade nos comunicarmos de forma holística, integradora e geradora de senso de pertencimento, fator indispensável para a nossa saúde psíquica. Estamos perdendo, aos poucos, a nossa capacidade de nos comunicarmos analogicamante. Essa linguagem é que nos permite observar o inefável, a imaginarmos o subjetivo, o não concreto e o abstrato.
A cibernética que tem sido um poderoso instrumento para o enriquecimento da cultura humano é, por outra lado, uma via sem volta para o empobrecimento do 'feeling", da capacidade de sentir o inefável desse próprio homem. Daí, as relações modernas, quase sempre, serem "biossintezidas", "plásticas", "voláteis" e "robotizadas".. O que acontece é que estamos perdendo a capacidade de sentir o "outro dentro de nós". Estamos reduzindo a nossa convivência, enquanto seres comunitários, ao mínimo possível. Mesmo quando em um mesmo ambiente profissional, por exemplo, separados uma pequena "baia", preferimos a linguagem digital à dialógica. Triste constatação!
Não estou advogando o banimento da linguagem digital, pelo contrário, penso ser esse modelo de comunicação indispensável para o progresso do homem em sua destinação histórica de conquistar sua sobrevivência e as distâncias que separam os ideais dos humanos de serem uma "grande aldeia global".
Por mais que a linguagem digital seja um indicativo da mente mais evoluída do homem do século XXI, por mais que seja tecnologicamente rica e complexa ela não contempla a riqueza do toque, do sorriso, das expressões fisionômicas como realiza a linguagem dialógica. Um exemplo claro é o modo como os bebês absorvem esse tipo de linguagem que provoca "conhecimento" imediato, intuitivo e espontâneo. E quando ele é falto o "rombo" que  provoca em todo a sua vida é irremediável. Só esse tipo de linguagem poderá dar ao homem a plenitude de um relacionamento saudável nas suas mais diversas interações. Senão, como surdos e mudos se humanizariam, e com que sinais os analfabetos se comunicariam e as crianças cresceriam emocionalmente? Há, nesses casos, alianças e acordos não digitais que os capacitam e desenvolver e crescer em toda a sua humanidade. Através dessa linguagem analógica é que se  permite  toda troca de muxoxos, expressões faciais, movimentos, signos e todas as outras expressões de uma linguagem totalmente  construtora de sua antropologia que busca no homem sua individuação.
Foi exatamente a linguagem dialogal o fator facilitador, também, da própria linguagem digital e binária. E, s essa linguagem (a dialogal) que possibilitou o homem essas tremendas conquistas não for "reativada com carga máxima" é possível que haja, em pouco tempo, uma completa desorientação entre os "linguajantes" - e isso seria o caos  completo no ambicioso projeto conquistador e exploratório da irrefreável curiosidade humana. Nós -os humanos- só poderemos nos manter vivos se mantivermos vivas as nossas mais variegadas formas de nos comunicarmos. Sem linguagem não há vida!
Certamente compreendo que se, em detrimento de uma linguagem, valorizarmos, excessivamente a outra, perderemos grande parte de nossos valores inconscientes, individuais e coletivos que só são como são, quando intercambiáveis com quais estabelecemos acordos, às vezes secretos, produzimos fantasias, criamos nossas defesas, autoajuda, conciliações, cooperação fatores tão fundamentais para os padrões de comunicação e para manutenção dos fundamentos de nossa saúde física, mental e espiritual. O homem é o que fala...

Cícero Brasil Ferraz  







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