Com o brocardo "cada um tem a sua razão", a pós-modernidade sepultou definitivamente a razão, aliás, ela, ícone do iluminismo e de todas as suas variantes. Isso porquê, se cada uma tem razão e essa é distante e distinta das outras, tenho a razão de afirmar, então: Não há concordância, unidade, comunicabilidade ou meio de vivermos integralmente na complexa sociedade dos humanos. Assim, não se pode mais falar de universalidades - todas as categorias são particulares e não mais grupais ou étnicas. Não há, por conseguinte, senso comum ou certeza, somente certezas e generalidades. E mesmo aquilo é certeza hoje,mesmo para o particular, não o será manhã. No máximo, o que pode haver, em termos de unidade, é uma diferença mais igual do que as outras. Em termos de um (dis)silogismo , seria mais ou menos assim: Qualquer caminho desse tipo de razão pode levar a qualquer conclusão, ou a conclusão nenhuma; e em termos existenciais: Qualquer caminho pode levar a qualquer lugar mas, que, também, qualquer lugar é lugar nenhum.
Parece, olhando superficialmente, que o argumento acima se nos pareça um "pun", um "puzzle"ou um jogo de palavras mas, é, na essência, a mais pura razão da irracionalidade pós-moderna. Destarte, a história de cada um, como também a história de todos caminham em sucessão de fatos particulares, sem nenhuma conexão entre eles. Não há como sustentar, desse modo, a tensão dialética proposta por Hegel em que todo movimento da história dos homens e dos homens dentro da história só subsiste a partir do seu contrário e não a partir do seu diferente, do simplesmente outro. Na pós-modernidade pelo fato desse movimento ser particular, sem definição permanente ou integrador é, então, social e psicologicamente natimorto.
Cabe, a esta altura, a título de quase uma digressão, uma pergunta retórica: Onde repousa a causa da epidêmica ansiedade do homem pós-moderno? Não estaria nessa falta de certeza de esperança, portanto, de futuro? Se não há absoluto nenhum, também não há verdade e se não há verdade, também não haverá esperança. O homem de hoje, assim, está constantemente fadado à uma pré-existência. do-si-mesmo que teima nele existir. Isto porquê se não há para esse possibilidade nenhuma de uma realidade palpável (mesmo que seja a mais primária), se não há objetividade nas particularidades existenciais ( o que o torna uma im-pesso-al), o que haverá então será somente uma representação de tudo em termos de tudo mais. Nada será valor de fato que possa tornar esse homem necessitante um projeto para o futuro. Se nenhuma certeza existe, também não haverá valores, porque toda luta é gloriosa quando busca o resgate de valores e isso constitui, de fato, o maior fato da nossa esperança. De fato valores tais como verdade, certeza, amor, bondade, justiça, paciência e tantos outros foram molas que lançaram os homens para os degraus da esperança. Muita vez à custo de lágrimas e morte.
Esta é a razão (a morte da razão) porque nada é mais permanente. A sociedade pós-moderna é filosoficamente fissípara e volátil. Todas as suas relações são construídas já com necessidade de se esboroar. Em todos âmbitos desta sociedade existe uma constatação axiomática: Não podemos construir relações permanentes, pois não há futuro algum nos aguardando. A única relação permanente é aquela baseada no eu-e-o-agora - sempre vazia; sempre solitária...
Se a modernidade conquistou o mundo com a certeza retilínea de sua razão, a pós-modernidade nos corrompeu com seu rompante niilista e incerto de suas circularidade. Hoje, nada é projetado, todo movimento é de circularidade e ambivalência. A utopia iluminista de que a razão daria ao homem uma esperança do futuro melhor fracassou com a deflagração de duas guerras mundiais.
A pregação messiânica da razão como norteadora da história humana não levou em conta os egos megalomaníacos e suas insanidades; e nem que, muitas vezes esse "ratio" opta muito mais por aquilo que sente do que por aquilo que pensa. Uma razão cartesiana às avessas: "sun, ergo cogito". Outras variantes como emoção momentâneas, espiritualidade fragmentadas, percepções místicas também se somaram a esse cipoal sináptico da inteligência humana da fracassada era da razão.
Assim (na modernidade), como agora (na pós-modernidade) o Éden está fechado com suas trancas inamovíveis pelos querubins. Novamente Adão e Eva são expulso da vida com significado e de esperança. A promessa iluminista foi tão fantasiosa quanto a realidade que vivemos hoje. Qual será o próximo passo da humanidade? E haverá outro passo?
Creio firmemente se houver um futuro à frente e, se o homem estiver lá estará, no mínima, de costas para ele.
Cícero Brasil Ferraz