Assuntos

19.12.12

O LOC CONTROLADOR

Qual é o grande legado de Cristo deixado para quem pratica a religião hebraico-cristã e, de algum modo, também, àqueles que professam alguma religião que tenha algum dogma ou pressuposto religioso manifesto através de alguma ordem litúrgica?
Confesso que esta abordagem será um tanto quanto simplista e até reducionista dada a complexidade do assunto. Nenhum terxto, mesmo que ad nausea, esgota-la-á. Mesmo assim, me arrisco aqui, fazer alguns levantamentos que, de alguma forma, poderão nos ajudar em algum estágio da nossa caminhada enquanto homo religiosus, enquanto seres movidos pelo imperativo da sacralidade; tipo daquele espírito que reinava em Atenas nos tempos bíblicos, quando Paulo de Tarso, ao visitar aquela cidade em uma missão evangelística, afirmou aos seus cidadãos:" ...em tudo vos vejo acentuadamente spersticiosos...", cheios de crendices teogônicas - literalmente, "supersticiosos".
Os protestantes históricos são herdeiros de uma tradição teológica, cultural e social inigualáveis. Mas, percebo, por outro lado, que a mesma teolgia dogmática que libertou os seus seguidores de tantas amarras do que era  era falso dentro do cristianismo medieval é usada, agora, para impor um modelo carcerário de vivenciar a fé cristã. O problema não está na sua propositura, mas no loc onde ela é "metabolizada"; não está, outrossim, nos pressupostos teológicos.
Não pretendo tratar esta questão no campo generalizado e das múltiplas manifestações religiosos ao redor do globo, mas reduzí-lo ao mundo chamado evangélico e, mais pariticularmente, ao mundo protestante, no qual estou inserto (com "s" mesmo). Não nas doutrinas "em si" mas na imposição inquisitória dos que manipulam a verdade como se fosse um objeto para satisfazer interesses que não se encontram nas raízes mais antigas do cristianismo "puro e simples".
 Neste modelo as verdades teologais torrnam-se num modo de pensar e não num estilo relacional com Deus. E como elas não são vivenciadas na experiência cristã, deixam de infundir nos seus crédulos a sua mensagm encarnacional, ou seja, a intimidade "mística" com Deus e com o próximo. Assim, o que foi elaborado para criar intimidade com o sagrado e com as pessoas, afasta o seu proponente da pessoalidade relacional a que aquelas verdades se propuseram. Os dogmas se tornam em um "poder fora": visto, crido e absorvida como algo estranho à tranformação do caráter, conquanto enraizado em alguma certeza. É uma verdade insossa, fria e sem conteúdo vivencial. Esses adoradores se tornam, assim, muito religiosos e, também, frios, críticos, túgidos, amargos, acusadores. e enfim enfim em "ovelhas doentes". Por esse processo, o que deveria curar  e libertar se torna em "verdade que envenena e mata".
Jesus nunca criticou os religiosos de sua época por nenhum dos seus conceitos ou doutrinas sobre Deus, mas no quê eles os transformaram; no como deglutiram as verdades de Moisés e de como eles as transformaram em ferramentas de morte para si mesmos e para os ourtros. Entre o os seus corações e a verdade havia um muro intransponível, sob a sombra do qual poderiam fazer qualquer coisa em nome da verdade. Daí a sua recusa em aceitar aquela doutrina divina viciada por uma prática demoníaca: O local da controle da fé estava na "letra que mata" e não dentro do coração que ama e perdoa.
Tomo como ilustração, para explicar o que está em epígrafe, o caso da "mulher adúltera", narrado por João, no seu evangelho. Alí, Jesus não criticou o mandamento bíblico do apedrejamento e nem, muito menos, a prática do mesmo. O que ele queria era que aquela verdade fosse filtrado "dentro" dos fariseus; que aquela decisão fosse tomada não pelo o loc externo, mas que passasse, primeiramente, pelo tribunal da alma, onde as verdades fazem a diferença e mudam os destinos. O Local do verdadeiro poder não deve estar isolado e "fora" daquele crê, mas "dentro" do seu postulante. A verdade conceitual do mandamento independe de que crê, mas o seu poder libertador, na vivência de quem o pratica. "Conhecer", no evangelho de João, é muito mais do que uma acepcão mental, é uma experiência encarnacional com o  quê do que se crê. É nesse sentido que João afirma categoricamdente:"..e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará...".
Essa religiosidde cujo o loc é externo domina, geralmente, gente de consciência insegura, subjugada pela crença de influências externas e, não raro, inconscientes quanto ao controle interno das manifestações pensênicas em todos os setores de sua vida. E é exatamente aqui que se encontra o fator poderoso que corrompe "tudo aquilo que é verdadeiro, que é puro, que é justo e bom". Torna distante aquilo em que há vida, graça, beleza, arte, perdão e amor. Esse tipo de gente não consegue pensar por si mesma, a partir de "dentro" de suas convicções.
O que Jesus propõe, por exemplo, não é "não adulterar", como queria os judeus, mas é não pensar no adultério. Aqui está o centro mesmo da religião do loc interno, ou seja,uma decisão tomada como uma verdade teologal que está dentro e, para ser tomada como verdade inteira, dever passar pelo potencial crítico da verdade em que se baseia suas atitudes. A outra, a do loc externo, não  avalia a sua prática a partir daquilo que produz vida, mas em algum dever que carece ser cumprido. É possível que, agindo assim, o praticante dessa orientação, atribuirá a si o sucesso da eliminção do mal que está " fora" . Cumpre o que o loc controlador externo exige: a uma falsa sensação de que está tudo certo diante dos homens, do mundo e de Deus por cumprir as exigências de uma falsa fé em que, muitos vezes, atirar pedras poderá transformar corações.

Cícero Brasi Ferraz


















































a

4.12.12

POR UMA NOVA ÉTICA

Como criar um novo imperativo categórico para definirmos uma nova e possível ética?
Com este questionamento de caráter liminar que desafia a nossa mente destituída, há muito, de uma razão lógica por deitarmos nossa esperança na precisão das máquinas, ou então, por termos cansado de homo sperans que em nós teima habitar, inicio este exercício de cidadania.
A crise que esse homem vive hoje está no fato de seus vastos conhecimentos, oriundos da modernidade, mais o encadeamento dos atos humanos, a partir de sua própria tecnologia, não serem acompanhados de uma expansão semelhante à sua capacidade moral, ou seja, o seu crescimento tecnológico não teve uma correspondência moral à mesma altura. Dessarte, ele não conseguiu assumir responsabilidade moral sobre o Outro o que, em proncípio, é o solo primário onde deve germinar qualquer coisa que possivelmente chamamos de ética.
Proponho, se não podemos ser otimistas, uma ética a partir da heurística do medo. Assim, para não destruirmos a nossa própria esperança, precisamos de um comportamento pessimista e  sistemático para errarmos, se for o caso, apenas por excesso de cautela,  o que poderia ser chamado também de abstinência positiva - buscar na omissão a capaciade de não destruir. Usar o curto espaço de tempo do campo moral que ainda nos resta para impulsos repressores que dessensibilizem os erros relacionais. Usando uma linguagem da patrística, sair do estágio non, no pecare para o outro, pecare. Precisamos de uma ética que venha antes do Estado, dos magistrados, dos ordenamentos jurídicos; uma ética que venha antes do Eu, em direção contrária de si mesma rumo ao Tu e, então, somente então, participaremos ativamente da comunidade sem o mito etiológico da neutralidade, ou seja, daremos mais atenção à profecia da destruição do que à profecia da bem-aventurança; e aquilo que nos construiu até aqui como seres positivamente éticos (a busca da sobrevivência, o autoengrandecimento, a consideração racional de fins e meios, a avaliação de ganhos e perdas, a procura do prazer, do poder, da política, da religião e da economia) deve dar lugar a um processo de reconstrução moral a partir de nada disso conseguir, se for roubar os poucos vinténs que ainda restam, daquilo que foi o grande tesouro da propagação de nossa sobrevivência, a garantia da prevalência de nossa espécie. E essa interdependência traumática é o preço que devemos pagar.
A ética pessimista proposta aqui é uma exigência feita pelo Outro sem nenhuma formalidade. É uma exigência pelo simples fato do Outro ser o Outro e que, como agentes éticos, nos veremos obrigados a distingui-lo. A responsabilidade que assumiremos diante desse Outro será o motor ético dessa exigência tácita, poderosa e sacrificial.
Nenhuma ética, por essa via, é natural ou indolor. Sempre provocará perdas primárias para a busca da completude de um Rosto Social responsivo. É a discontinuidade do Eu em busca do bem-comum, da própria sobrevivência do Eu gregário. Dessa relação Eu-Tu nascerá, por um processo maiêutico, um novo ser chamado Nós, sem o que não sobreviveremos enquanto indivíduos. Na verdade uma espécie de "contrato social"sem interferência do Estado e sem o conceito formal de justiça; uma nova ordem de santidade, beatitude, misericórdia, de amor e caridade pelo fato de não sobrevivermos sem o Outro com suas multiplicidades enquanto ser humano. O escopo dessa nova ética será: Aja de modo que os efeitos de sua ação não sejam incompatíveis com a permanência da genuína vida humana.
Sei que estou laborando uma tese a partir de uma premissa estóica, mas depois de tudo que tentamos – e que não deu certo – precisamos suspender todo e qualquer juízo de nossas ações frustradas e nos lançarmos em busca de uma ética para aquém de nós mesmos e encontrarmos na ausência da força positiva uma sinergia minimamente possível que nos obrigue a olhar para o Outro sem nos autodestruirmos. Haveremos de conviver, de qualquer forma, com aquela terrível e poderosa realidade dita por Jesus: "...vós que sois maus sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos...". No final, nossa ética será amar ao máximo para não vivermos sem o benfício que esse amor vital retorna ao nosso interior, nosso agrupamento social, remédio para muitos dos males que o psiquismo humano hoje sofre. Por fim, transformar uma ética que tinha como fito o prazer (ética positiva), em uma outra que tem como alvo o estrito dever (ética negativa).

Cícero Brasil Ferraz